Por Ademir Assunção, jornalista, escrito e poeta, no Facebook
Quando comecei a desejar uma linguagem de poesia no palco, com uma banda, não imaginava as proporções que acabaria tomando. Não queria um sarau, com músicos improvisando e um poeta (eu) lendo os poemas. Queria muito mais: um show de poesia e música. Com uma banda de feras e uma linguagem orgânica, potente, vigorosa. Muitas vezes pensei: isso é maluquice. Mas segui em frente.
A primeira vez que senti que poderia dar certo foi com o show Psicolérico, em 1996. Chamei o saudoso violonista, cantor e compositor Madan, que havia musicado vários poemas do meu primeiro livro, LSD Nô, e o percussionista Ricardo Lopes Garcia. Trabalhamos durante 6 meses, procurando os encaixes da poesia falada com os arranjos musicais. Apresentamos o show na Biblioteca Mário de Andrade (São Paulo). Lá se vão 23 anos.
Desse embrião conseguimos gravar o CD Rebelião na Zona Fantasma, nove anos depois (2005), com produção de Luiz Waack (que também gravou guitarras e violões) e os músicos Madan (violões), Mintcho Garramone (contrabaixo), Edu Batistella (bateria), Dani Szafran (teclados), Celmo Reis (violino) e Ricardo Garcia (percussão), com participações dos meus parceiros Edvaldo Santana e Zeca Baleiro.
Montei uma banda com Waack (guitarra), Reinaldo Chulapa (baixo), Szafran (teclados) e Leandro Paccagnella (bateria); fizemos várias apresentações em São Paulo e outras cidades, às vezes com formações diferentes. Mas ainda havia canções, algumas partes cantadas, e eu continuava buscando um show só de poesia e música, explorando os ritmos e cadências dos poemas. Nunca quis ser cantor.
Em seguida comecei a trabalhar com o guitarrista MarceloWatanabe Watanabe e o contrabaixista Caio Gòes Neves. Fizemos vários shows e, posteriormente, agregamos o baterista Caio Dohogne. Formou-se a banda Fracasso da Raça. Mais shows, mais ensaios, mais composições, mais arranjos e gravamos o CD Viralatas de Córdoba (2012), com este trio de músicos e participações especiais de Ricardo Garcia (percussão), Thais Piza (vocais e vocalizes) e Fabiana Cozza (vocal na única faixa cantada). A produção foi de Cássio Martin.
Agora, alternando o trabalho com a Banda Fracasso da Raça, surgiu a parceria com a Buena Onda Reggae Club: Kiko Bonato (teclados), Eduardo Marmo (contrabaixo), Marcos Mossi (guitarra), Felipe Guedes (bateria), Cauê Vieira (sax e flauta), Rodrigo Ribeiro (trompete) e Victor Fão (trombone).
Quem se aventura a fazer um trabalho como esse sabe bem as delícias, desafios e também as pedreiras que precisa enfrentar. É necessário criar uma estrutura para manter um grupo de profissionais unidos, trabalhando. É preciso ter shows. Mas isso são outros quinhentos. O mais difícil é criar uma linguagem, criar um show de impacto, inovador, desafiador.
E isso foi criado. Vejo muitos desdobramentos pela frente. O próximo passo é gravar esse trabalho, essa linguagem, essa alquimia entre palavras e sons. Quase não acredito que consegui realizar aquele velho sonho, com o auxílio luxuosíssimo de vários músicos e muitos outros profissionais que precisam se envolver para que a mágica aconteça: técnicos de som, técnicos de gravação, iluminadores, videastas, fotógrafos, produtores e programadores de espaços culturais que abram as portas para a inovação.
Estou felicíssimo com o show que realizamos domingo passado no Sesc Belenzinho. É uma longa estrada pra chegar até ali. Mas quero mais, muito mais.
Meus agradecimentos a todos os que se envolveram: além dos músicos já citados, Almir Rosa (iluminação), Junão Ferreira (técnico de som), Robson Timoteo (gravação em vídeo), Adriana Yuki (produção da Buena Onda), Fabio Giorgio (produção geral) e os programadores do Sesc Duda, Glauce e, especialmente, Sandro Saraiva. E a Diana Junkes, companheira, incentivadora e interlocutora.
Agradecimentos também a Jr Bellé, que fez a proposta de unir minha linguagem com a da Buena Onda, banda que já traça seu caminho há alguns anos no mundo da música instrumental.
Por fim, mas não menos importante, meus agradecimentos a Simone Rotta, mãe dos meus filhos, que acompanhou a gênese disso tudo, partilhou muitas barras e me deu os maiores presentes da minha vida: Naiara Rotta Assunção e Yan de Assunção.
O público que vai aos shows, que quer ver e ouvir o que acontece no palco, não precisa saber disso tudo – mas agora sabe. É uma vida. É uma longa estrada.
Como cantou Raul Seixas: “basta ser sincero e desejar profundo”. Sabemos que precisa mais. Precisa muito trabalho, muita criatividade, muitas buscas, muita insistência. Mas as palavras de Raul são a base de tudo.
Abaixo, algumas imagens do show, pela lente do fotógrafo, amigo e comparsa Juvenal Pereira