A bandeira da professora e a estrela do estudante

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Por Luiz Antônio Simas – 

Certa feita eu estava assistindo, bem moleque, a uma aula de Estudos Sociais quando a professora falou da necessidade do amor incondicional aos símbolos da pátria, especialmente ao auriverde pendão do poeta. Fez então, a tia, uma pergunta fatal:

– A estrela que está acima do Ordem e Progresso representa que estado do país?




E eu, altaneiro, augustíssimo da paz e certo da resposta, já que meu avô tinha me ensinado, bradei com a autoridade de um caboclo de umbanda dando esporro no corpo mediúnico do centro:

-O Pará!

A dona me fuzilou com o peso inclemente da tirania:

– É o Distrito Federal! É o Distrito Federal!

Como insisti, a mestra afirmou que não aguentava mais dar aulas a um peste como eu, endemoniado, malcriado e futuro marginal. Admito que meu comportamento em sala não era exatamente exemplar, mas ela exagerou. Me senti a última das crianças, o patinho feio antes de virar cisne.

Nunca esqueci do esporro e tive sérios problemas em respeitar a bandeira do Brasil. Era ver o estandarte canarinho e o arrazoado da mestra rugia nos meus ouvidos.

Eis que o tempo passou e meu avô cantou pra subir. Morreu manso, ele que sempre foi esporrento. Não deixou herança em dinheiro ou imóveis, mas legou aos seus uma caralhada de coisas aparentemente inúteis, como flâmulas de clubes, moedas da época do Império, álbuns de figurinhas incompletos, um chicote de cangaceiro e uma bandeira magnífica do Brasil, enroladinha como ela só. Dentro da bandeira, protegida, uma cartilha da época do Estado Novo com a explicação completa , minuciosa , sobre os símbolos nacionais. Sabem o que a cartilha diz?

A bandeira foi proposta pelo intelectual positivista Teixeira Mendes, com apoio do astrônomo Manuel Pereira Reis e do artista Décio Vilares. A posição das estrelas no lábaro representa o céu do Rio de Janeiro às 8:14 minutos do dia 15 de novembro de 1889, data e hora da proclamação da República, equivalente a 12 horas siderais – e já adianto que não faço ideia de que diabo é isso de hora sideral.

Diz ainda que cada estrela representa um estado. E, vejam vocês, que a única estrela acima da faixa com Ordem e Progresso é a Spica, representando o estado do Pará. À época da proclamação da República, Belém era a capital mais setentrional do país, ainda que abaixo do Equador.

O Distrito Federal, queridos, é representado pela Sigma do Oitante, que fica próxima ao pólo celeste, o que faz com que todas as estrelas visíveis nos céus do Brasil façam um arco em torno dela. E a Sigma está abaixo do Ordem e Progresso. Acima só está o Pará, cacete!

Hoje é o dia da bandeira e, em homenagem ao velho, vou repetir insistentemente, com a obsessão de um João Batista no deserto, que a única estrela acima da faixa do lábaro representa o Pará. Pe-a-erre-a: Pará.

Abraços.

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