A culpa não é do PT

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Por Cintra Beutler, publicado em Jornal GGN – 

Se Lula não tivesse se candidatado. Se o PT tivesse abdicado de concorrer às eleições este ano. Se o PT tivesse formado uma ampla frente progressista e uma coalizão à esquerda para fazer frente ao Fascismo. Esses foram alguns questionamentos feitos nas redes sociais logo após o resultado das urnas de ontem. Com pouco mais de 46% dos votos válidos, Bolsonaro vai para o segundo turno com chances muito claras de vencer a disputa pela presidência.

Há um claro estarrecimento causado por esse fenômeno, qual seja: de um candidato estreante, desconhecido do grande público há relativamente pouco tempo, pertencente a um partido sem relevância no cenário nacional e quase sem apoio de outras siglas, conseguir o feito de obter essa expressiva quantidade de votos.




Porém, pouco importa agora saber os porquês dessa conjuntura, seja de que área for: sociológica, psicológica ou cultural. Teses abundam para tentar explicar tamanha manifestação das urnas. Fato é que agora o campo progressista tenta apontar culpados que possam justificar esse feito assombroso. E, quase que por extensão, culpa-se o PT. Contudo, o Partido dos Trabalhadores é o menos culpado por esse evento (se é que algum percentual de culpabilidade possui). A seguir explano porquê.

A imprensa, capitaneada pela Globo, e desde que Lula assumiu o cargo de presidente, se esmerou em diariamente criticar dura e inescrupulosamente todo movimento do partido, sem abrir espaço para o contraditório e qualquer tipo de defesa, e pintaram um monstro exageradamente feio para a população em geral, ainda que com os erros cometidos pelos governos do PT.

Pois é essa estratégia que foi adotada pela imprensa por todos esse tempo: execute-se esse tipo de difamação de forma rotineira. Faça-se dessa oposição irresponsável e risível o arroz com feijão dos jornais. Não dê chance para que se estabeleça algum diálogo ou ponderação em contrário. Como efeito, cria-se assim um estigma, uma mácula indelével e perene na percepção da sigla como o pior mal que já se viveu.

Insere-se assim na cabeça do cidadão comum, a sensação de que um partido concentra em si as piores figuras e mazelas que possam ser encontradas no cenário político. Assim cria-se o antipetismo: um tipo de doutrina não encontrado em mais nenhum outro partido, e que está enxertado a ferro quente no imaginário e na consciência coletiva do boobus, ou o homem-massa brasileiro, o cidadão comum.

Consolidada e pavimentada essa via do antipetismo, Dilma Rousseff também sentiu em 2014 os efeitos nocivos desse movimento de antipatia a um único partido. Conseguiu milagrosamente se eleger para um segundo mandato, vencendo o boquirroto e fanfarrão Aécio Neves. Porém a governabilidade estava já há muito ameaçada e, com o apoio incondicional da imprensa, foi derrubada em 2016, num golpe branco jurídico-parlamentar, similar ao que ocorreu com Lugo no Paraguai.

Sérgio Moro e o STF também são responsáveis diretos por isso. O primeiro, como já sabido, por conseguir o feito de retirar Lula da disputa presidencial, demonstrando claramente que esse era seu objetivo final. E a máxima corte por corroborar e referendar todos os movimentos claramente golpistas e enviesados. O que desmascara e demonstra totalmente o viés político-partidário do Supremo.

Desse modo, percebe-se que o fenômeno Bolsonaro não é exatamente natural. Ele é produto de um vácuo causado pelo antipetismo – anos de marteladas unilaterais contra uma única sigla. Pregando para uma plateia de convertidos, em um ambiente que pode controlar seu discurso totalmente, ele é fruto das redes sociais, ambientes férteis para a incontida onda de boatos e fake news – fenômeno recente e também consequência do antipetismo.

Desse modo, quem pariu Bolsonaro foram a imprensa e o Judiciário. Ainda que de maneira indireta, criando os meios e adubando o terreno para que Bolsonaro se avolumasse. Fica evidente que por mais ações que o PT tomasse, o protagonismo já não seria exclusividade sua e é completamente improvável alguma alteração notável nesse cenário atual.

É imprevisível o resultado do caso em que Lula ou Haddad estivessem fora da disputa, como querem fazer entender os defensores da tese de culpabilidade do PT.

Tome-se ainda que o tucanato nunca foi devidamente criticado quanto o PT. Aliás, sempre foi contrário: o PSDB e seus interantes sempre foram escudados pela imprensa, e é quem em tese deveria ter sido o favorecido por tantos anos de ataques à sigla contrária. Mas o PSDB pouco lucrou com isso. O problema é que essa sensação de blindagem também foi sentida pelos adeptos da extrema direita, que cresceu nos últimos anos.

Tanta contenção dos escândalos tucanos foram suficientes para mostrar aos eleitores de Bolsonaro que o PSDB é um partido que tem o apoio da mídia e, pela associação com a esquerda que está cristalizada no entendimento desses eleitores, o tucanato foi substituído quase que completamente como o contraponto ao PT.

O resultado é ilustrado no desempenho de Alckmin: o tucanato desidratou de vez e não teve nem ao menos força para chegar entre os três primeiros colocados.

Embora a esquerda e o campo progressista ainda tenham relevância e se esforcem em fazer valer seus ideais, como o belo exemplo do movimento #Elenão, fato é que os zumbis seguidores do inominável candidato estão em um estado de torpor e hipnose tal qual Freud usaria para ilustrar em “A Psicologia das massas“. Tal estado de neurose é irreversível no ponto em que se encontra e, ainda que haja um frágil fio de esperança, o pior cenário é o mais plausível. Com apenas o apoio da ala progressista do espectro político, ainda que houvesse apoio do centro para Haddad – talvez – de forma alguma há a garantia de transferência de votos para o petista e teremos o inominável fascista subindo a rampa em 1º de Janeiro de 2019.

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