A primeira tarefa de Silvio Rodríguez: filme conta como cantor ajudou a alfabetizar Cuba

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Por Lucas Estanislau, compartilhado de Opera Mundi – 

‘Silvio Rodríguez: Mi Primera Tarea’ estreia hoje no Festival de Buenos Aires; maior expoente da Nova Canção Cubana ensinou soldados e camponeses a ler e escrever

“Cuba! Cuba! Estudo, trabalho e fuzil! Lápis, caderno, palavra, alfabetizar, alfabetizar!”. Era o que cantavam os membros da Brigada Conrado Benítez de Alfabetização, programa criado pelo governo revolucionário cubano em 1961, dois anos após o triunfo da Revolução liderada por Fidel Castro. Junto deles, um garoto de 14 anos, que saía pela primeira vez de sua cidade natal, Havana, partia para os rincões afastados do país para ensinar camponeses pobres e esquecidos pela ditadura de Batista a ler e escrever. Esse garoto era Silvio Rodríguez, cantor e compositor que se tornaria um dos mais famosos expoentes da chamada Nova Canção Cubana no final dos anos 1960.

A história de como um dos maiores artistas da América Latina passou um ano de sua adolescência alfabetizando em nome da Revolução é contada no documentário “Silvio Rodríguez: Mi Primera Tarea” (Silvio Rodríguez: Minha Primeira Tarefa, em tradução livre), que estreia nesta quinta-feira (24/09) no Festival Internacional de Cinema Documental de Buenos Aires.

Dirigido pela norte-americana Catherine Murphy, o curta metragem de 25 minutos traz entrevistas com o cantor e recupera imagens de arquivo para percorrer a trajetória do programa que fez de Cuba o primeiro país livre de analfabetismo da América Latina. O nome do filme é dado pelo próprio artista, que reconhece em sua participação nas brigadas de alfabetização a inauguração de sua atividade social.

“Minha primeira ideia era ir à Sierra Maestra. Os jovens, como eu, tínhamos a imagem da epopeia de Sierra Maestra muito fresca em nossas mentes. Era algo que todos queríamos imitar, não libertando o país com uma luta armada, mas libertando nosso país das correntes do analfabetismo”, conta o compositor, em referência às montanhas onde os guerrilheiros do Movimento 26 de Julho iniciaram a luta pela libertação nacional.

O pedido do governo era que jovens secundaristas se voluntariassem nas brigadas para, então, serem deslocados a zonas afastadas com alta incidência de analfabetismo. O adolescente, que anos mais tarde escreveria sucessos que se tornariam hinos da Revolução cubana como “El Necio”, “Playa Girón” e “Sueño con Serpientes”, serviu seu país na zona montanhosa de Escambray, a cerca de 300 km de Havana, em uma fazenda próximo à praia Rancho Luna. “Não havia um jovem naquele período que não quisesse fazer parte do projeto”, diz o cantor.

Reprodução/FIDBA ‘Silvio Rodríguez: Mi Primera Tarea’ estreia hoje no Festival de Buenos Aires

“Alfabetizei o batalhão 339 de Cienfuegos, formado por operários e camponeses”, lembra Silvio. Os soldados a quem se refere o compositor estavam então mobilizados para combater os diversos focos contrarrevolucionários presentes na ilha, principalmente após a invasão frustrada de Playa Girón, encomendada pelos Estados Unidos.

“De fato, por aqueles dias, muito pouco tempo depois de chegarmos naquela região, mataram um alfabetizador, que só tinha um ou dois anos a mais que eu, chamado Manuel Ascunse Domenech”, diz.




Depois do tempo entre combatentes, Silvio foi morar com uma família de camponeses na mesma região e ali diz que “viu o que era a verdadeira pobreza da Cuba do passado”.

Com 14 anos, Rodríguez participou das brigadas de alfabetização junto com milhares de jovens (Divulgação/FIDBA)

“Me lembro de algo que me emocionou muito, durante uma conversa com essa família, me dei conta de que eles não sabiam que a Terra era redonda. Como ensiná-los a ler se nem tinham noção do lugar onde viviam?”, lembra o cantor.

Como membro das brigadas de alfabetização, Rodríguez diz que não ensinava simplesmente o alfabeto, mas transmitia noções básica da vida, ao mesmo tempo em que aprendia “tanto quanto eles”.

Em “Silvio Rodríguez: Mi Primera Tarefa” está presente não só um pequeno retrato de uma das muitas transformações estruturais trazidas pela Revolução socialista em Cuba, como também as histórias da primeira missão revolucionária cumprida por um dos maiores artistas da América Latina.

Ainda sem previsão de lançamento no Brasil, o filme pode ser acessado virtualmente, com áudio original em espanhol e legendas em inglês, pelo site da organização cultural Hot House de Chicago, onde o documentário teve sua pré-estreia, que contou com a presença da diretora e performances de grupos musicais.

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