Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado

Na semana da infâmia que proibiu Luiz Inácio Lula da Silva de velar seu irmão Vavá, foi aguçada a tentativa de vender o general Hamilton Mourão, vice-presidente, como uma espécie estranha, o “medieval civilizado”, na comparação com o ogro titular, Jair Bolsonaro.

É evidente que Mourão tem pretensões de substituir o capitão. Que não seja agora, mesmo mais adiante. A estudada e falsa cordialidade com jornalistas, as declarações aparentemente “humanitárias” sobre o direito líquido e certo que foi negado a Lula no caso do irmão falecido, a alegada intenção de não comprar brigas inúteis com árabes e chineses…

Tudo aparentemente faz parte da tentativa de se construir junto à elite econômica a imagem de um militar mais apto a entregar as reformas exigidas pelo capital sem o desgaste que a indigência intelectual do titular torna cada vez mais constrangedor.

Juntem-se a essa pouca discreta articulação as cada vez mais evidentes ligações do clã Bolsonaro com milicianos e esquemas de corrupção e é dado o gás ao vice.

Ninguém com mais de quatro neurônios duvida que a família Bolsonaro tem armário que, se aberto, não resistiria a um mês de investigação séria, daquelas que permitem também amplo direito de defesa. Até aí, ok.

Mas o que importa para as esquerdas é que desse eventual barraco entre fardados não sairá coelho algum de bom. No que é fundamental, a pauta econômica de entrega de riquezas nacionais ao capital internacional e a retirada dos poucos direitos sociais de pobres, Bolsonaro e Mourão são faces da mesma e triste moeda. O máximo que os diferencia é a patente militar, um é general e o outro não passou de capitão.

É um erro portanto, para os setores progressistas, desperdiçar tempo e energia nessa batalha interna da extrema direita. Chega a ser preocupante ver gente de esquerda imaginar que o combate pelos pobres seria mais fácil com Mourão. Como dizia Lúcio Flávio, um antigo e há muito falecido bandido carioca, “polícia é polícia e bandido é bandido”.

Afora a questão fundamental que o une a Bolsonaro, Mourão também não se distingue pelo republicanismo ou civilidade. Basta lembrar a escandalosa promoção, e o consequente salário triplicado, que arrumou para seu filho no Banco do Brasil (imagine se isso tivesse ocorrido em governo petista…) e as barbaridades que já disse sobre negros e indígenas. É um gorila em pele de cordeiro.

Não é provável que Bolsonaro se afunde imediatamente. Para isso tem a cobertura da PF comandada por Moro e do MP subserviente. Não falamos aqui da Justiça pelo fato de o espaço não ser reservado ao humorismo.

Se houver alguma disposição das elites de dar o golpe branco em Bolsonaro, isso só ocorrerá depois de e se a reforma da Previdência ser aprovada ou se o acaso trouxer à tona mais revelações sobre o clã que dificultem a mudança nas aposentadorias. Essa é a música de uma nota só dos donos do dinheiro. Em nome dela, tudo será permitido.

Por tudo isso, é algo além da inocência achar que qualquer um dos milicos seja melhor do que o outro. Temos um problema já posto e ele é imenso: a maioria da população, iludida em vários campos, legitimou a ida das bestas ao poder. gostemos ou não.

A oposição, infelizmente, se mostra fraca ou inexiste nas ruas e estão divididas no Parlamento, como se vê agora nas eleições das Mesas de Câmara e Senado.

É hora de tentar superar nossa fragilidade momentânea e enfrentar o combate contra os agentes do retrocesso nos costumes e  bater de frente com quem quer perpetrar a chacina social.

Estamos no Brasil imprevisível hoje e difícil sempre. A disputa pela Previdência está aí e deve unificar as esquerdas.

Nisso que é a questão de fundo, Bolsonaro, Mourão e quem os patrocina estarão juntos. Eles são iguais.