Cavalos de Tróia

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Há alguns anos, abordei aqui uma entrevista de um jornalista argentino que conversara com um militar nosso, razoavelmente graduado, em plena atividade na fronteira tríplice.

Por Virgilio Almansur, compartilhado de Construir Resistência




O encontro se deu na cidade de Foz do Iguaçu e, basicamente, tratou-se das demandas dos oficiais, suas queixas, soldo defasado e a perda de um protagonismo sentida desde meados dos 90.

O jornalista houve por bem reproduzir algumas das falas, mas ficava bastante evidente o sentimento que a tropa engalanada sentia ou seja: corresponder em benesses o que altos funcionários públicos percebiam, em especial a turma togada.

Essa entrevista correu numa página de Facebook, em especial na de um militar reformado, prenhe em críticas a seus pares e à condução politiqueira exercida pelas forças armadas que insistem na adoção de um partido político, o Partido Militar.

Na gestão Tofolli, no STF, este buscou “assessoria” de um militar, gal. Azevedo, que logo estaria no ministério da defesa desse desgoverno arruaceiro. Havia sempre o comentário: “… O que faz um general na assessoria de um tribunal como o STF?”. “Assessoria”?

Apesar das investidas tímidas de nosso jornalismo, pouco ou nada resultou das indagações, e o que ficou mesmo como constatação era a da “necessidade de partilhamento institucional”. Pasmem!

Não bastasse essa frágil resolução, sem qualquer amparo constitucional e insinuando muito mais subalternidade, o próprio TSE, na gestão de Barroso, encaminhou ofício às forças armadas para que indicassem elementos seus para acompanhar o trabalho de transparência do órgão.

A resposta institucional do TSE, conforme ataques do executivo, incluiu a formação de uma comissão composta por 12 (doze) especialistas em tecnologia. Eram representantes de instituições públicas e privadas, exatamente para acompanhar cada etapa do processo eleitoral.

Barroso e o defectível general que sabe quem mandou matar Marielle, praga useira e vezeira na casa de vidro, conversaram sobre a inclusão, no grupo da transparência, de um indicado das forças armadas.

Entre salamaleques instituintes, tudo se deu dentro da “harmonia institucional”, como apregoou um arrependido Barroso, ao se referir, recentemente, ao convite que tinha como pressuposto outras medidas para aumentar a transparência do processo de apuração das eleições.

Cavalos de tróia, esses milicos acabaram por insuflar na platéia bolhosa, a dúvida requerida na instituição dorsal, judiciária como um todo (o STF tem seus membros dispostos ao TSE; em ambos os tribunais, além de outros representantes do STJ, advogados etc., forma-se o tribunal eleitoral).

A idéia era debelar (ou tentar debelar!!!) as informações falsas que vinham sendo divulgadas sobre o tema e em especial plantadas pelas próprias forças, a despeito de suas competências que, por sinal, cabem tão somente na prestação de serviços ao mundo civil. Teria então o TSE acusado um golpe?

“Desde 1996 não tem um episódio de fraude no Brasil. Eleições totalmente limpas, seguras e auditáveis. E agora se vai pretender usar as forças armadas para atacar? Gentilmente convidadas a participar do processo, estão sendo orientadas para atacar o processo e tentar desacreditá-lo?”, questionou um ginasiano Barroso percebendo o óbvio: que há um esforço para levar as forças armadas ao “varejo da política” e que isso seria uma “tragédia” para a democracia.

No entanto, o mal que 64-85 produziu, além de um uso espúrio do cachimbo torto, fez mesmo a boca crônica mais torta ainda ao trazer figuras despreparadas para o cenário institucional que representam o poder.

Barroso não se deu conta que a turminha engalanada vive de ameaças. Na tropa é mais do que sabido o ditado, usado em tom de ameaça permanente, principalmente pelas carrancas do atual ministro da defesa, que a cobra vai fumar…

Esse expediente, que conta com uma força armada, parece nada distar das performances milicianas. Quando o tenentezinho, nos idos dos 80, subia até Rio das Pedras e ameaçava seus moradores, gritando naquelas vielas insalubres, montado numa motoca e que “precisavam pagar por proteção”, ninguém imaginaria que ele traria a experiência no trato presidencial; sua coerência é impressionante. Até quando veio morar na Sernambetiba, hoje Lucio Costa, e se amparou com figuras como o tal Lessa, provável executor de Marielle, num condomínio barra pesada.

Nossos preclaros instituintes ignoram o cerne rapineiro que consta do historial dessa gente frotista como helenão e companhia. Foram também, engalanados, os plantonistas e suas tampinhas no peito, na lapela e ombros, que autorizaram o massacre sobre civis legitimamente rebelados em busca de um estado melhor ou o respeito ao Estado Democrático e de Direito.

Esse ranço está aí! Deu as caras e bocas há muito. Conspiraram, ameaçaram e fustigaram os verdadeiros poderes sob inspiração externa e interna (aqui onde preside o viralatismo tão bem evidenciado por Tofolli e Barroso em seus arroubos ginasianos). Fizeram par à juristocracia que impera há três décadas trazendo enorme insegurança jurídica e contribuindo a um golpe parlamentar de triste memória.

Não creio que haveremos de assistir a uma recomposição dos interesses à justiça social. Não será fácil demover essa escumalha inserida nos meandros institucionais, prenhe de rapineiros engalanados ou não. Sabem, esses milicos, o quão nos mostramos despreparados e pior: têm certeza daquela centelha ameaçadora que faz, ainda, dobrar incautos, além de contar com o medo ínsito que as bocas fumegantes impõem.

Ontem vimos o representante maior dessas forças numa composição apatetada. Eram os três patetas revelando um telecath de quinta, perguntas preparadas, um entrevistado sabedor das inquirições; atores também de quinta a revelar a latência num discurso que está às claras num manifesto repugnante: “… Às urnas caberão ao exército responder se íntegras ou não…”. A dupla global calada…

E não era a colinha na mão esquerda parecendo recado aos incautos? Nicarágua, Argentina, Colômbia e Dario Messer tinham endereços aos próceres por trás dos entrevistadores, em especial o “doleiro dos doleiros”, leva e traz de Marinhos e quetais…

Foto: Arquivo pessoal

Virgílio Almansur é médico, advogado e escritor

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