Com Bolsonaro fora, novo presidente deve priorizar combate à inflação e ao desemprego

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Inflação, desemprego – toda vida importa

Por Rosa Maria Marques, compartilhado do Holofote Notícias




É difícil eleger o tema que seja central ou mais importante na conjuntura brasileira atual. Depois de quase quatro anos de um governo que prima por destruir direitos humanos e sociais, que promove a destruição do meio ambiente e que não manifesta nenhum compromisso com a geração de emprego e renda e a soberania nacional, já deveríamos não nos surpreender com a tragédia do dia.

Não importa se essa tragédia diz respeito à situação econômica do país – que indica que a produção está ao nível de 10 anos atrás, mas, ao contrário de antes, está acompanhada de elevadíssimo desemprego, precarização do trabalho, queda da renda das famílias e inflação, tudo isso somado à acelerada desindustrialização e reprimarização da pauta de exportação – ou se descobrimos que Auschwitz é aqui e que a morte não é uma fatalidade e sim uma certeza derivada da condição de vida de parte expressiva dos brasileiros.

Mas ainda bem que ainda temos a capacidade de nos indignar e que não aceitamos a banalização dos desmandos cotidianos.

Estamos em um ano de eleição presidencial e há muita esperança no ar, de que seja possível alterar a trajetória de destruição que assola o país.

Mas isso não será tarefa fácil, dado o grau de destruição das instituições e mecanismos de controle e participação popular que foram construídos a partir da Constituição de 1988, e o nível de degeneração moral da sociedade brasileira.

Tudo será urgente e prioritário, embora desautorizar firmemente que a mão do Estado seja instrumento de chacinas e desprezo total pela vida de outrem já será um bom começo.

No campo econômico, afora as decisões estratégicas que deverão ser tomadas inicialmente e que pavimentarão a reconstrução do país, será preciso enfrentar de imediato o processo inflacionário e o desemprego.

A persistência desses flagelos está minando, como nunca visto, a sobrevivência da maioria da população brasileira, provocando não só o retorno da pobreza absoluta a níveis extremamente elevados, como jogando milhões em situação de insegurança alimentar.

O que está em jogo, portanto, é a vida de milhões de cidadãos de nosso país. E frente a isso, mesmo se houvesse qualquer ilusão de que o “mercado” acabaria, mais cedo ou mais tarde, por resolver esses problemas, não há tempo para que se espere nenhum minuto sequer. Repetindo, se trata da vida de milhões e, como dizem os movimentos sociais, cada vida importa.

A inflação não é um fenômeno que esteja afetando apenas o Brasil. Ao contrário, é mundial e tem forte determinação na desorganização das cadeias produtivas globais e nacionais ocorrida durante a pandemia de Covid-19 e, agora, agravada pela guerra na Ucrânia.

Apesar disso, em cada país, se somam outras determinações e, no caso brasileiro, isso não é pouco importante.

A prioridade concedida à exportação de commodities essenciais na mesa da população, a ausência de estoques reguladores, a política da Petrobrás que, submetida aos interesses dos acionistas, pratica preços internacionais dos combustíveis, a ausência de controle sobre os reajustes abusivos, entre outros, são apenas a ponta do iceberg da problemática brasileira.

Sem contar que estamos também pagando o preço de termos, no passado recente, priorizado importar no lugar de aqui produzir determinados bens, muitas vezes estratégicos.

E esse preço nos foi cobrado bem caro no início da pandemia, quando tivemos sérios problemas de acesso aos equipamentos de proteção individual (EPIs) e, mesmo mais tarde, de insumos para a fabricação de vacinas.

Quanto ao desemprego, no curto prazo, a única maneira dele ser enfrentado é mediante a criação de frentes de trabalho por parte do Estado. E não faltam setores ou atividades nos quais implantá-las por esse país afora, com destaque para a educação e a saúde públicas que estão sucateadas.

O efeito disso em termos de geração de emprego e renda, como sabemos, é significativo, muito superior àquele derivado da ação do Estado, pois aumenta a demanda dos setores envolvidos com os investimentos e movimenta a economia local.

Para isso, é preciso definir a criação das frentes de trabalho como prioritárias, o que envolve repensar radicalmente o orçamento fiscal.

Tal como é feito em momentos de guerra ou como ocorreu no auge da pandemia de Covid-19 (pelo mundo afora e inclusive no Brasil), o reconhecimento da prioridade deve se desdobrar ou se traduzir nos recursos para ela dirigidos.

Essas são as prioridades urgentes. Sua aplicação irá depender não só da vontade política do novo governante e dos deputados e senadores, como, principalmente, da atuação e pressão política do que é chamado de sociedade civil nas ruas e em todos os lugares.

Rosa Maria Marques é professora titular de Economia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)

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