Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, no Facebook –
O discurso da volta
Lula, apesar da longa experiência política, viveu com certeza muitas emoções nas últimas horas. Ninguém sai ileso depois de 580 dias sem liberdade.
Por isso, é prudente não dar peso total e definitivo ao seu discurso de hoje. Tanto é que ele mesmo pediu “uns 20 dias” para um pronunciamento mais acabado politicamente.
Até lá, esperto como é, vai ampliar consultas para além daquelas que mantinha com poucos em conversas de no máximo uma hora por semana em Curitiba. Vai sentir também uma coisa que ele interpreta como ninguém, “o cheiro da rua”.
Ponderado isso, o que se pode inferir do discurso de hoje em São Bernardo do Campo? Lula já sentiu o que toda pessoa bem informada, ou que ao menos lê notícias, acha que existe de mais imediato para atingir Bolsonaro: a ligação da família do presidente da República com milicianos (não tão novo) e, principalmente, a crescente suspeita de envolvimento de alguém, ou “alguéns” do clã com o assassinato de Marielle e Anderson.
O caroço do angu está cheirando.
Na outra ponta, a política econômica de Paulo Guedes, o genocida social. A degradação neoliberal na vida cotidiana dos pobres, principalmente, será alvo de Lula.
E ninguém como ele sabe traduzir isso para o cidadão comum, que mesmo sofrendo a manipulação do noticiário sente cada vez que a vida está mais difícil.
Lula é, goste-se ou não, e até infelizmente, o ÙNICO líder do campo popular no Brasil. Tem uma capacidade de articulação e sedução política que estava fazendo falta às esquerdas.
Deu para notar que está bem fisicamente, principalmente para uma pessoa de 74 anos. O vídeo que enviou ao Grupo de Puebla que está reunido em Buenos Aires impressiona pela disposição e promessa de partir para a disputa política.
Nada é certo no Brasil hoje, menos que o tabuleiro ficou diferente desde ontem e que a Política voltou ao seu leito quase normal com a presença do político que divide o País.
Sim, não acreditem nos textos infantis que apontam Lula como o único capaz de unir o Brasil. Sabe-se que não, que divide. Mas sabe-se também que não é possível caminhar junto com fascistas e com os que aceitam a barbárie em nome de um projeto econômico espoliador dos poucos direitos dos pobres.
Que a divisão se aprofunde, agora com a voz mais autorizada do campo popular.
