Pedro Ladeira/Folhapress
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Desde quando foi preso, segundo uma pessoa próxima, Delgatti vem sendo procurado por políticos e autoridades que detidos na mesma ala que ele, na Papuda, para contar o que leu nas conversas interceptadas. O que no início assustou virou o maior passatempo e diversão do hacker: as rodas de conversa para falar sobre as mensagens das autoridades. Quando conseguiu se matricular no curso a distância de Direito, recebeu parabéns de colegas. Nos banhos de sol e nas horas que passam no pátio, a atenção dos políticos geralmente é voltada para Delgatti, que grampeou autoridades como o ministro da Justiça, Sergio Moro, e procuradores da Lava Jato.

Daí vem o interesse central desses presos pelo que o hacker tem a contar. Como Delgatti tem uma “excelente” memória – reconhecida até mesmo por agentes da Polícia Federal, que o interrogaram em duas ocasiões – e insiste em afirmar que leu todo o material antes de “vazar’” para o site The Intercept, as conversas no pátio da Papuda duram horas e despertam atenção e curiosidade dos presos, entre eles Geddel.

Geddel foi preso em 8 de setembro de 2017 após a apreensão de R$ 51 milhões em dinheiro vivo em um apartamento, em Salvador, no âmbito da Operação Tesouro Perdido. Também já estiveram confinados nesse mesmo bloco o ex-deputado Rodrigo da Rocha Loures, que foi assessor de Temer, o ex-ministro petista José Dirceu e o ex-senador Luiz Estêvão.

A ala abriga hoje outros dois presos da Operação Spoofing, assim como Delgatti: Gustavo Henrique Elias Santos e Danilo Cristiano Marques. Na última semana, a Justiça Federal do Distrito Federal rejeitou soltar Danilo e Suelen Priscila de Oliveira – também presa –, apesar de a Polícia Federal ter se posicionado a favor do pedido das defesas. O Ministério Público foi contra.

Empolgado com as novas amizades na prisão, Delgatti chegou a dizer a uma pessoa que o visitou que se sente feliz com “a oportunidade de conviver com pessoas experientes” na prisão. Presos menos conhecidos, mas com interesses nos processos da Lava Jato, também têm se aproximado de Delgatti. O hacker já confessou ter tentado invadir – a PF ainda não sabe se com êxito – até mesmo o telefone do presidente Jair Bolsonaro e de outros ministros de Estado.

Além da rotina de roda de conversas no pátio da prisão, Delgatti tem se dedicado diariamente aos estudos. O curso que começou a fazer da cadeia é sobre Direito Penal. Ele tem se preparado para uma prova, marcada para este sábado, 14, fazendo o fichamento de várias apostilas. Assim que realizar o exame, já começa a se preparar para uma segunda prova, sobre Direito Constitucional. Antes de ser preso, Delgatti chegou a cursar a faculdade de Direito, e pretende reiniciar os estudos quando deixar a prisão. Sua meta é ser advogado trabalhista. Fontes com acesso a Delgatti dizem que ele “entende de Direito”. Na cadeia, consegue ler até 500 páginas em um único dia. O hacker também é autodidata, entende de legislação e tem uma personalidade acelerada. Por isso toma dois medicamentos ansiolíticos por dia, um antes de dormir.

Delgatti está preso numa cela sozinho. Conta com uma televisão, que fica ligada o tempo inteiro em canais de notícias. Gosta de se informar sobre tudo o que está acontecendo no mundo da política e lê todas as matérias relacionadas ao seu caso. Nos papos que acontecem no pátio, gosta de mostrar que tem as conversas vazadas sobre integrantes do governo “frescas na cabeça”.

Na prisão, no entanto, ele tem criticado as reportagens que têm sido publicadas pelo The Intercept, apontando que o site privilegia conversas que implicam o ministro Moro e estaria deixando de publicar informações comprometedoras sobre procuradores. O hacker costuma contar em detalhes trechos das conversas que guarda na memória. Diz que sabe “muito mais” do que já foi divulgado pelo site. Na cadeia, demonstra “pavor” à figura do procurador Deltan Dallagnol, chegando a “se arrepiar” toda vez que escuta o nome do procurador. “É pavor mesmo”, diz a fonte, que acrescenta: “Ele leu todas as conversas e passou a sentir pavor, muito mais do que do Moro”.De VEJA