Os mistérios que rondam Queiróz, o “amigo” dos Bolsonaros

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Por Marcelo Euler em seu Blog – 

Jair e Flavio Bolsonaro ao lado do amigo Queiroz (Reprodução das redes sociais)

Ainda são muitos os mistérios em torno dos altos valores – R$ 1,2 milhão – movimentados pelo subtenente da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ), Fabrício José Carlos de Queiroz, que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras – Coaf, rastreou. Ele fez movimentações milionárias em conta bancária, com depósitos e saques mais do que suspeitos, incluindo R$ 24 mil que foram parar na conta de Michele de Paula Firmo Reinaldo Bolsonaro, a futura primeira-dama do país.




Os mistérios, porém, não se resumem apenas à farra com dinheiro desconhecido e, por isso mesmo, suspeito. A trajetória profissional deste suboficial da PM do Rio também guarda curiosidades que deveriam merecer atenção. Além de devidas explicações.

Aos 53 anos de idade – ele nasceu em outubro de 1965 – Queiroz, em novembro passado foi para a reserva remunerada, com 35 anos de serviços prestados, 31 deles na corporação militar. Nela ingressou em 28 de dezembro de 1987, então com 22 anos. Aposentou-se, portanto, com bem menos do que a idade mínima que os neoliberais que administrarão a economia do país falam em exigir dos trabalhadores em geral. Tudo, porém, dentro das regras e legislação existente.

Provavelmente a partir dos 18 anos, ao prestar serviço militar no quartel de Paraquedistas do Exército, começou a contar seu tempo de contribuição à previdência. Foi naquela época que não apenas conheceu o hoje capitão eleito presidente da República, Jair Messias Bolsonaro. Data de então a amizade surgida entre os hoje subtenente e o atual capitão reformado. Uma amizade que se estendeu aos filhos do oficial do Exército que virou político. Também conviveu com o futuro vice-presidente, general Hamilton Mourão. O mesmo que hoje cobra explicações sobre estas estranhas movimentações financeiras.

Queiroz e o capitão Bolsonaro em uma pescaria reprodução das redes sociais)

Curiosamente, dos 31 anos de carreira militar na PMERJ, em um estado no qual a questão da segurança é premente há muito tempo, Queiroz passou apenas 19 anos e três meses dentro do quartel exercendo a atividade que optou. Outros 11 anos e seis meses foram dedicados à assessoria parlamentar, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro – ALERJ.

Nela, segundo cadastros oficiais a que o Blog teve acesso, ele ingressou em 1° de abril de 2007. Foi justamente no início do segundo mandato de Flávio Bolsonaro como deputado estadual, então pelo PP. Na eleição anterior ele elegeu-se pelo PPB.

Apesar de afastado da Polícia Militar, Queiroz continuou recebendo seu soldo normalmente, acumulando com os vencimentos dos cargos comissionados que lhe deram no gabinete. O último deles, para o qual foi nomeado em 4 de junho passado, foi de Assessor Parlamentar III, símbolo CCDAL – 3, que lhe deu direito a um vencimento líquido, em setembro passado, R$ 8.517,86.  Até junho, na função de Auxiliar I, símbolo CAI-16, tinha um rendimento líquido de R$ 6.577,64. Teoricamente, estes valores devem ser ressarcidos ao Executivo pelo Legislativo, mas houve épocas em que nem sempre isso ocorreu.

O surpreendente, porém, em especial por todos os problemas que o Estado do Rio vive com a falta de segurança é que o suboficial, em 2011, quando já não mais prestava serviços à Polícia Militar e servia como motorista/segurança a um deputado estadual, conseguiu uma promoção. Em um cadastro que o Blog consultou consta que “até 31/12/2011 era assistente administrativo. A partir de 1/1/2012 passou a ser Dirigente do Serviço Público Estadual e Distrital”.

Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), tal denominação abrange aqueles que atuam como “Chefe do serviço público estadual e distrital, Coordenador do serviço público estadual e distrital, Funcionário público estadual e distrital superior, Gerente do serviço público estadual e distrital, Secretário estadual e distrital (serviço público estadual e distrital)”. Fica a dúvida: atendendo como motorista/segurança de um parlamentar, a quem Queiroz chefiava e/ou coordenava?

Muito provavelmente esta “estranha” promoção justifique a diferença salarial que ele, como subtenente, mantém em relação aos demais colegas de farda, mesmo estando afastado do serviço de policiamento e de um quartel da PMERJ.

Segundo uma tabela de remuneração dos quadros da Polícia Militar do Rio consultada pelo Blog (reproduzida ao final), o soldo total de um subtenente em 2018 é de R$ 9.278,00 brutos. Com o desconto dos impostos cai para R$ 8.047,48.

Remuneração percebida pelo subtenente Queiróz em novembro de 2018.

Já Queiroz, em novembro de 2018, conforme mostra o site de transparência da Secretaria de Planejamento do Estado do Rio de Janeiro, percebeu bruto R$ 12.563,54. Com os descontos de praxe teve depositado em sua conta bancária R$ 9.020,20, quase o que seus colegas de patente recebem de forma bruta.

Tal rendimento é superior ao que percebem os capitães da PMERJ. Pelo mesmo quadro consultado, o rendimento bruto de um deles é de R$ 10.477,68. Feitos os devidos descontos, o valor depositado na conta cai para R$ 9.105,13, portanto, apenas R$ 85,00 a mais do que o subtenente, que jamais cursou a Academia de Polícia, recebeu em novembro passado.

Tendo por base o salário que ele recebeu na PMERJ em novembro e o que ele recebia antes na ALERJ (cuja base é a folha de pagamento de setembro), constata-se que para atender ao deputado Flavio Bolsonaro na condição de motorista/segurança, Queiroz recebia do Estado do Rio de Janeiro, líquido, algo em torno de R$ 17.538,00.

Com base no mesmo quadro remuneratório da Polícia Militar, constata-se que percebeu do cofre estadual mais do que o valor depositado na conta bancária de um tenente coronel PM: algo em torno de R$ 15.662.

A remuneração alta, acima do que recebem seus colegas de farda, porém, não é o único mistério que ronda a carreira do subtenente Queiroz. O que parece ter sido esquecido pela grande mídia é que em fevereiro passado, pouco depois de assumir como interventor na área da segurança pública do Rio, o general  Walter Braga Netto, alardeou que exigiria o retorno dos 3.113 servidores das Polícias Militar e Civil, do Corpo de Bombeiros e da Secretaria de Administração Penitenciária que estavam emprestados a outras instituições, fora das funções para as quais foram contratados. O bate-boca demorou. Só na ALERJ estavam 151 policiais militares, 63 servidores do Corpo de Bombeiros e 38 da Polícia Civil.

No final das contas, em 16 de abril, o então secretário de Segurança do Rio de Janeiro, general de divisão Richard Fernandez Nunes, publicou no Diário Oficial a Resolução SESEG Nº 1.170 de 13 de abril de 2018, dispondo sobre “a suspensão da cessão de Policiais Militares à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro”.

No texto, alegou o que todos sabiam: “a necessidade de otimizar os esforços realizados pelas forças de segurança pública, em conter a criminalidade e proporcionar segurança ao cidadão fluminense; e que a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro encontra-se com déficit de efetivo e, mesmo se convocados todos os aprovados no último concurso, não alcançará o contingente previsto para a Corporação, o que traz dificuldades para o cumprimento de sua missão constitucional”.

Curiosamente, porém, dos 151 policiais militares emprestados à ALERJ, convocava apenas 87 PMs. Os demais 64, segundo a própria Resolução, foram mantidos “excepcionalmente (…) a fim de garantir a proteção pessoal dos deputados estaduais e o exercício de outras atividades policiais naquele órgão”.

Queiroz foi um dos mantidos. Afinal, como consta, muito embora se desconheça qualquer ameaça concreta ao deputado Flavio Bolsonaro, ele estava ali para garantir a segurança do mesmo. Mas não apenas isso. Pelo que demonstrou o Relatório do Coaf, serviu também como administrador de conta bancária que movimentou valores altos. De origem, até agora, desconhecida.

Abaixo a tabela de remuneração da PMERJ em 2018 extraída do contodefardas.blogspot.jpg

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