Os repórteres a serviço do golpe

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Dizem que hoje é o Dia do Repórter. Não sou muito afeito a estas datas. Nem sei por que ela é comemorada, se é que é. E olha que trabalhei 6 anos no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e, mais do que ninguém, deveria saber por que existe esta dita cuja. Afinal, também tem dia da Imprensa, do Jornalista, do Jornalismo.

Por Simão Zygband, compartilhado de Construir Resistência




Mas eu sou da velha guarda de jornalistas e admiro vários deles, com os quais eu mesmo convivi, mas tenho um profissional da notícia que é uma referência para mim e para outros colegas: o Ricardo Kotscho, que sequer é meu amigo (uma pena) e, quando muito, nos conhecemos de vista.

Kotscho também é da velha escola de jornalismo, até mais antiga que a minha, e disse categoricamente em uma entrevista para a revista Cult (nem sei se ainda existe): “Lugar de repórter é na rua e não na redação”.

Isso talvez diferencie um repórter de outro tipo de profissional de imprensa. Ele está onde os fatos acontecem. E muitas vezes, por isso, se transforma em uma profissão de risco. Vários já morreram pelo amor ao jornalismo, colocando-se em risco em situações de tiroteio, incêndios, enchentes, desabamentos, explosões, revoltas populares, guerras, entre outras.

Claro que já corri risco. E ele existe não somente em situação de perigo explícito. Também é perigoso denunciar desmandos, corrupção na política e na máquina pública, estelionato de graúdos empresários, etc.

“Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade”. Esta frase é atribuída a George Orwell, mas não é. Também se costuma dizer que é de William Randolph Hearst. Porém, na referência mais antiga da citação de que se tem notícia  (1918), é de autoria desconhecida. Bem, mas pouco importa. O que vale é a veracidade dos fatos.

O que ocorre com o jornalismo atual, sem nenhum saudosismo, é que ele se transformou em um “house organ”, uma espécie de repetidor de releases passados pelas assessorias de imprensa. Claro que há raríssimas exceções. Bolsonaro mesmo cuspiu em vários coleguinhas e só assim eles se convenceram de que eram apenas um instrumento mecânico dos empresários de comunicação e dos seus interesses econômicos e políticos. Até então tinham sido cúmplices do golpe contra Dilma Rousseff, contra o PT e a Democracia.

Teve repórter que se prestou ao papel de ser porta-voz da Operação Lava Jato. E não foi um só. Funcionaram como uma espécie de assessores de imprensa do comprometido e suspeito juiz Sérgio Moro e seu parceiro, Deltan Dallagnol. Prefiro não citar o nome deles, mas pertenciam aos mais importantes veículos de Comunicação do país, como a TV Globo, o Estadão, O Globo, Folha de S.Paulo, entre outros,”profissionais” estes que desonraram a profissão, colocando-se a serviço do fascismo, da farsa do golpe, sendo instrumento de ataque contra a Democracia.

Vários deles comemoraram quando Sérgio Moro colocou Lula por 580 dias na cadeia, de forma autoritária e arbitrária, calçada em uma evidente artimanha, que ficou conhecida como a Operação Farsa a Jato.

Agora desfilam em seus veículos de imprensa como se não tivessem nada a ver com o peixe, como se não tivessem culpa ou responsabilidade sobre os 6 últimos anos de desmandos dos desgovernos do golpista Michel Temer e do genocida Jair Bolsonaro.

Sempre houve repórteres e jornalistas que preferiram estar ao lado dos fascistas, dos poderosos, puxando o saco dos milionários empresários de Comunicação. Queriam uma ascensão social rápida, se transformando assim em um tipo de capitães do mato. Sentiram-se senhores quando na verdade eram escravos. Apoiaram até o sanguinário regime militar. Anos depois, uma outra geração ajudou a sedimentar o caminho para o desgoverno do genocida, da mesma forma que fizeram os que apoiaram a ditadura.

Há outros entretanto, que honram a profissão e estiveram nas trincheiras na luta pela Democracia. Estes são os imprescindíveis.

São só estes que valem a pena.

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