Professor de Direito é demitido e alunos denunciam perseguição política

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Por Diego Singolanido, Do Debate News, publicado em Jornal GGN – 

A estranha demissão de um professor universitário de Ourinhos, na semana retrasada, desencadeou uma grande mobilização da comunidade acadêmica em toda a região. A suspeita é de que o desligamento de Mauricio Saliba, que dava aulas de Sociologia e Política nas Faculdades Integradas de Ourinhos (FIO), tenha sido motivada por divergências ideológicas. A direção do centro universitário, que é gerido por uma fundação sem fins lucrativos, ainda não se manifestou publicamente sobre o caso. Centenas de alunos da instituição assinaram uma petição publica on-line reivindicando a volta do docente.

O professor foi demitido sem qualquer explicação quando já preparava o próximo ano letivo

No bojo da polêmica, relatos de uma suposta perseguição política no campus da faculdade começaram a ser compartilhados. Em um deles, estudantes dizem ter sido impedidos de realizar uma manifestação pacífica contra o candidato Jair Bolsonaro durante as eleições de outubro. Os alunos teriam sofrido, inclusive, ameaças do diretor da instituição, que foram gravadas.




Na terça-feira, 11, Mauricio Saliba foi chamado ao setor de Recursos Humanos da FIO. O professor conta que na hora já imaginou qual seria o motivo. “Nos últimos meses havia um certo clima de repressão”, afirmou. Em um breve diálogo com a responsável pelo departamento, Saliba foi informado de que o diretor da instituição, Bianor Colchesqui, não tinha mais interesse em seu trabalho e “lhe desejava boa sorte”.

Mauricio Saliba ministraria aulas para as 13 turmas do curso de Direito no próximo ano. Toda a programação e horários já estavam definidos e nenhuma justificativa para sua demissão foi apresentada. “Eu sei que não partiu da coordenação do curso de Direito. O coordenador foi pego de surpresa, assim como eu”, disse.

Mauricio Saliba é Doutor em Educação e estava há dez anos na FIO. Autor do livro “O Olho do poder: análise crítica da proposta educativa do Estatuto da Criança e do adolescente”, ele também lecionou em outras graduações e pós-graduações de universidades de São Paulo e do Paraná. “Nunca falei de política em sala de aula. Eu falo sobre Teoria Política, que é algo completamente diferente. Sempre respeitei a pluralidade, sem impor nada aos alunos. Confesso que eu realmente achava que teríamos retrocessos depois das eleições de outubro. Só não esperava que fossem tão cedo”, declarou.

No dia seguinte à notícia da demissão de Mauricio Saliba, representantes das 13 turmas do curso de Direito começaram a se mobilizar e questionar a direção da faculdade sobre os motivos da saída do professor. Além disso, uma petição pública on-line, que até a noite de sexta-feira, 21, contava com 653 assinaturas, pedia a volta do professor. Segundo informações, a FIO ainda não se manifestou sobre o caso. A reportagem também enviou perguntas via e-mail ao coordenador do curso de Direito, mas não obteve retorno. “A FIO está se transformando em um Centro Universitário. A palavra universidade vem de universal, ou seja, que cabe todo mundo. Nós, que defendemos a democracia, não podemos abrir mão desse valor”, afirmou Saliba.

Censura

Os rumores de que a demissão do professor Mauricio Saliba tenha como pano fundo questões ideológicas ganharam força, principalmente, depois de um episódio ocorrido na FIO no mês de outubro, dias antes do segundo turno das eleições. Alunos de diferentes cursos estariam organizando uma manifestação pacífica contra o então candidato Jair Bolsonaro. Segundo informações, a ideia do grupo era cantar uma música de protesto no pátio da faculdade durante o intervalo das aulas. Porém, o diretor da instituição, Bianor Colchesqui, teria descoberto a movimentação e ido de sala em sala repreender os estudantes. Na turma do curso de Artes, que realizava prova naquele momento, Bianor chegou a coagir os alunos. A reportagem teve acesso a um áudio da fala do diretor, gravado por um estudante que estava na sala. Bianor diz que aqueles que participassem da manifestação “nunca mais iriam entrar [na FIO]”. Em tom agressivo, ele afirma que a FIO “tem dono e é particular. Não é como Unesp ou Uenp, não”. O diretor, nitidamente alterado, ainda usa palavras de baixo calão contra os alunos. “Aí vem um e diz: ‘Mas eu tenho direito’. Direito é o cacete! Quer vir com mandado de segurança? Foda-se o mandado de segurança”.

Para o professor Mauricio Saliba, o cerceamento da manifestação dos estudantes foi um recado daquilo que estaria por vir. “A FIO não tem dono. É uma fundação e tem responsabilidades com a nossa comunidade. Se a instituição quer, de fato, se tornar uma universidade, tem que respeitar e ouvir os alunos”, afirmou Saliba.

A FIO é mantida pela “Fundação Educacional Miguel Mofarrej”, entidade sem fins lucrativos que atualmente é presidida pelo usineiro Roque Quagliato. O diretor da faculdade, Bianor Colchesqui, é bastante próximo do deputado federal e militar da reserva Capitão Augusto Rosa (PR). Bianor, inclusive, já acompanhou Rosa em diversas viagens à Brasília para, segundo consta, tentarem a liberação de um curso de medicina para Ourinhos.

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