Quando a comunidade faz ciência sobre si

Compartilhe:

Dicionário Marielle Franco mostra a estratégia de geração cidadã de dados usada nas periferias. Caso do recenseamento da pandemia nas favelas mostra os ganhos obtidos com a quebra de hierarquias e a democratização dos processos científicos

Por Kita Pedroza, Rafael Ramires Baptista, Renata Gracie, Thiago Ferreira e Polinho Mota, compartilhado de Outras Palavras




Foto: Léo Lima

Vejamos algumas cenas: em 2013, o termo “favela” desapareceu de diversas localidades do mapa da cidade do Rio de Janeiro fornecido por uma das plataformas mais acessadas de mapas online (o Google Maps). À época, áreas de favelas também foram substituídas por borrões brancos ou verdes. Corta. No período inicial da pandemia da COVID-19, em 2020, milhares de casos da doença relativos a todas as regiões do país, incluindo áreas ditas formais e, especialmente, favelas e periferias brasileiras, não constavam em nenhum levantamento sobre a doença – configurando um apagão de dados proveniente do Ministério da Saúde. Corta. Nesse mesmo cenário da pandemia, intensificaram-se os relatos de falta d’água e energia elétrica sobretudo feitos por moradores de favelas e periferias e divulgados em mídias comunitárias e independentes – situação corriqueira que perdura até hoje. Corta. Pular por cima de poças de esgoto, ao sair de casa para o trabalho é rotina para habitantes das 1.074 favelas da cidade do Rio de Janeiro[1] e inúmeras regiões do país sem esgotamento sanitário adequado. Corta. Estes são alguns dos diversos temas que vêm se tornando assunto de pesquisa e mobilização política para organizações da sociedade civil, pesquisadores independentes, além de coletivos e instituições baseadas em regiões de favelas, periferias e lugares onde não há garantia a direitos básicos de cidadania, por vezes, com apoio de fundações e institutos públicos e/ou privados. E o que a prática da Geração Cidadã de Dados (GCD) tem a ver também com isso? Muito. 

A Geração Cidadã de Dados (GCD) – termo que tem ganhado destaque internacionalmente – é um fenômeno transnacional que se refere ao aumento da participação de cidadãos e cidadãs na coleta, produção e interpretação de dados para influenciar em escalas globais e locais. Nesse sentido, existe um incentivo direcionado a indivíduos, em várias partes do mundo, para se envolverem ativamente com a produção de informações relevantes relacionadas a desafios sociais, de saúde, ambientais e políticos em geral. Dessa forma, aumentam as possibilidades de combinar saberes enraizados em vivências com instrumentos de pesquisa, de igual para igual. Reconhecer o protagonismo, a legitimidade e a perspectiva de conhecimentos oriundos de pessoas sobre suas próprias realidades de vida é primordial nesse processo e uma das bases da GCD. No contexto brasileiro, essa forma de pesquisa tem sido caracterizada como um conjunto de metodologias e ações práticas realizadas colaborativamente por diferentes organizações, coletivos e instituições com o objetivo de contribuir para a transformação social, impactando diretamente diversos contextos. Conforme trataremos adiante, a estruturação e disponibilização de dados, por meio de bases de acesso aberto, faz parte do cenário de produção desses levantamentos. 

Maiores detalhes sobre o assunto podem ser conferidos no verbete Geração Cidadã de Dados, produzido recentemente para o Dicionário de Favelas Marielle Franco, e que se encontra em destaque ao final desta introdução. Entre os principais motores dessa prática no Brasil, está o fato de, frequentemente, os pontos de vista de quem sofre processos sistemáticos de exclusão de direitos desaparecerem ou estarem sub-representados nos sistemas oficiais de produção de dados, que alimentam os setores de planejamento de infraestrutura urbana, por exemplo. Como diriam os Racionais MC’s na música “Expresso da Meia-Noite”: “só quem é de lá sabe o que acontece”. Perspectivas locais são diferentes das descritas em pesquisas inteiramente externas e, mesmo quando evidenciadas, realidades locais e muitos problemas não são sanados por não incluírem ações de incidência política – os temas do acesso (inadequado) à água, esgotamento sanitário e energia elétrica em regiões faveladas e periféricas são exemplos recorrentes nesse sentido. Por outro lado, não se trata de descartar a produção de dados oriunda de órgãos governamentais, como os complexos mapeamentos demográficos sobre a população brasileira, mas de elaborar metodologias abertas à participação coletiva, portanto, passíveis de incorporar perspectivas alternativas.

Outra ponta de conexão com a filosofia da GCD, no Brasil, são os conhecimentos gerados por povos originários e tradicionais, como indígenas e quilombolas. Essas populações sempre tiveram as próprias formas de produzir conhecimentos, desenvolver modos de vida com base em saberes que atravessam gerações e remontam a seus ancestrais, acumulando histórias, memórias e suas transmissões. Aqui cabe lembrar de Nêgo Bispo e suas lutas pela valorização dos conhecimentos ancestrais acumulados pela população negra e quilombola, bem como dos diversos articuladores de origem indígena que, há tempos, chamam atenção para a importância dos seus conhecimentos nos esforços para minimizar os efeitos problemáticos das mudanças climáticas e do racismo ambiental, por exemplo. Com o passar do tempo, as possibilidades de sistematizar saberes e realizar estudos em abrangência cada vez maior, gerando e consolidando processos científicos de estruturação de dados, foram se concentrando nas mãos da gestão estatal, que detém poder de decisão sobre o levantamento e uso de dados de interesse público, e também da iniciativa privada. Tornaram-se frequentes os casos em que empresas não divulgam seus dados publicamente e não investem em política de dados abertos, reforçando a lógica de que informação é poder e custa dinheiro. Dessa forma, há empresas que constroem seus bancos de dados e só os divulgam mediante pagamento, mesmo que em alguns casos a base do banco tenha tido origem em uma instituição pública. 

Nesse ponto, lembramos algo crucial: dados representam vidas (ou mortes), em diversas áreas de gestão do conhecimento humano. Renata Gracie (coordenadora do Laboratório de Informações em Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), em entrevista à revista Veja, alertou que a divulgação de dados pode “salvar vidas”. Em sua visão, um diagnóstico adequado da situação da saúde é fundamental, “porque ajuda na tomada de decisões mais acertadas”. No que diz respeito ao contexto da pandemia do novo coronavírus, acrescentou que “populações com mais dificuldade de acesso a dados sobre a COVID são as que moram em favelas, além de quilombolas, indígenas e presidiários”.  

Diante dessas circunstâncias, nos últimos anos, observamos uma tendência crescente de grupos, movimentos e coletivos situados em áreas periféricas e faveladas engajando-se em pesquisas de maneira sistemática, estabelecendo parcerias com fundações, institutos, organizações sem fins lucrativos e instituições de ensino e pesquisa. No Rio de Janeiro, exemplificando, entidades como Data_labeLabJacaCasa FluminenseInstituto Fogo CruzadoJornal Fala RoçaRedes da MaréMuseu da MaréInstituto Raízes em Movimento (CEPEDOCA), as Redes Conexões Periféricas Favela Sustentável, entre outros, estão na vanguarda dessas iniciativas, junto a esforços semelhantes que permeiam as várias regiões do Brasil. Nesse contexto, jovens articuladores de favelas e periferias estão se especializando em diversas áreas do conhecimento ligadas ao desenvolvimento de pesquisas, fazendo uso de metodologias qualitativas e quantitativas. A formação acadêmica, a experiência profissional, os conhecimentos científicos e empíricos se entrelaçam com os saberes tradicionais e ancestrais, convergindo em uma luta conjunta por direitos. 

Quanto à motivação que impulsiona a sua própria prática, com base no uso da GCD, Rafael Ramires Baptista, fundador do InfoCria (coletivo de Educação Tecnológica Popular), oriundo do município de Duque de Caxias, Baixada Fluminense, resume: “Amor ao território. Tem um poeta, chamado Sant, que diz em uma de suas músicas ‘se eu sair daqui, quem é que muda meu bairro?”. E continua: “Sozinho a gente não muda nada. Podemos fazer alguma coisa, mas com a força coletiva conseguimos fazer muito mais, ainda que não seja o suficiente. Para mudar realidades, precisamos apostar em todas as camadas de poderes estatais que atuam nos territórios. As políticas públicas fazem parte dessas camadas e, para chegar até elas, precisamos saber dialogar, para entregar nossas demandas e conseguir resolvê-las dentro desse sistema de gestão pública. A GCD vem como essa chave, essencial para conseguirmos sentar à mesa com quem toma as decisões de qual território da cidade vai ser mais ou menos bem cuidado”. 

Entre os muitos casos de uso da GCD que acumulam perspectivas de retornos efetivos para a sociedade, estão os autorrecenseamentos de favelas (incluindo parcerias com instituições acadêmicas e órgãos governamentais); iniciativas coletivas de levantamento de dados sobre a COVID-19; os Mapas da Desigualdade e o Mapa Cultural da Rocinha.

Levantamentos censitários são um instrumento indispensável para o diagnóstico das conjunturas macrossociais e das desigualdades locais. Apesar de suas limitações, “os dados demográficos representam informações fundamentais para a compreensão e o planejamento das ações governamentais”, de acordo com Marcelo Nery.[2] Mas regiões de favelas e lugares onde o investimento em políticas públicas, historicamente, tem sido menor costumam conviver com imprecisões relativas aos seus perfis. Quanto mais precisos forem esses retratos, mais chance haverá de reivindicar investimentos públicos para melhorar as condições de vida nesses lugares. A título de exemplo, em Saúde Pública, esse pressuposto é chamado de Análise de Situação de Saúde, cujo princípio se baseia no levantamento de dados e que possibilita gerar um diagnóstico da Situação de Saúde. Com base nestas informações, é possível aplicar os recursos públicos de maneira mais adequada. Quanto mais se divulgam estas análises, mais chance há de as populações identificarem suas questões e utilizarem estas informações para cobrar, de maneira mais adequada, ações dos gestores.   

Gerar um retrato mais condizente com a realidade local da Maré foi uma motivação importante para estimular, no fim da década de 1990, o início do processo pioneiro de levantamento de dados populacionais, por organizações internas do conjunto de favelas da Maré, no município do Rio de Janeiro, com objetivo de levantar um perfil mais completo da localidade. Em seguida, foram feitos novos levantamentos do Censo Maré, em 2010 e 2019, pela Redes de Desenvolvimento da Maré e Observatório de Favelas, em parceria com institutos governamentais municipais e federais de pesquisa, aprofundando o conhecimento sobre as 16 favelas da região e seus cerca de 140 mil habitantes. De acordo com os realizadores, a intenção não foi substituir os levantamentos oficiais feitos periodicamente pelo IBGE, mas oferecer uma perspectiva mais precisa sobre as diversas características do espaço e da população. 

Com abrangência nacional, o Censo Demográfico do IBGE adota duas pesquisas, Universo e Amostra – com nível menor de aprofundamento no primeiro segmento, que abrange todos os domicílios do país. Em municípios mais populosos como Rio de Janeiro e São Paulo, essas informações coletadas podem não representar tão bem as singularidades de áreas mais densamente povoadas, como os conjuntos de favelas. A temática da educação, por exemplo, é abordada somente na pesquisa por Amostra, assim, dados como a escolaridade na Maré, só são indagados em 5% dos domicílios, de acordo com o último relatório do Censo Maré (2019). Quanto aos resultados, enquanto os do Censo Maré mostram 19,6% dos adolescentes entre 15 e 17 anos fora da escola, o Censo do IBGE totalizou 13,4% em 2010. Já o número total de habitantes da região foi contabilizado em 135.989 moradores pelo Censo de 2010 do IBGE e o Censo Maré contou 139.073 moradores, 3.084 a mais. O apoio de redes e organizações locais foi fundamental para a boa cobertura do trabalho, bem como a efetiva participação de moradores em todas as etapas.

Outra iniciativa caracterizada pela coleta de dados e todas as demais etapas de tratamento e uso de informações de forma cidadã foi o Painel Unificador COVID-19 nas Favelas (PUF), que reúne dados sobre o alcance da COVID-19 em favelas do Rio de Janeiro e sua Região Metropolitana. Diante da indisponibilidade de dados públicos adequados sobre esses territórios da cidade, o Painel Unificador de COVID-19 nas Favelas foi a solução desenvolvida, em 2020, por um conjunto de 24 coletivos de favelas cariocas e organizações sem fins lucrativos, com apoio de setores da prefeitura, da iniciativa privada e da Fundação Oswaldo Cruz (por meio do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde e outros órgãos) e realizado pela Comunidades Catalisadoras (Comcat). Diga-se de passagem, a falta de disponibilidade de dados públicos sobre a COVID-19, em seu período mais crítico, também alcançou áreas ditas formais, diante do apagão de dados oriundos do Ministério da Saúde à época. Nesse caso, a organização não governamental Brasil.IO (Repositório de dados públicos disponibilizados em formato acessível) tomou a iniciativa de levantar estes dados de interesse público a partir de consultas junto às secretarias estaduais de saúde no Brasil.

Em sua quarta edição, o Mapa da Desigualdade desenvolvido pela Casa Fluminense, reúne 40 indicadores sobre as condições de sobrevivência da população fluminense. Entre os resultados, mostra que cerca de 50% da população da Região Metropolitana do Rio de Janeiro vive com menos de um salário mínimo. A metodologia é baseada no cruzamento de 23 fontes públicas de dados. Reportagens publicadas na imprensa vêm provocando o posicionamento de governos locais sobre as informações apresentadas. Quanto ao Mapa Cultural da Rocinha, essa plataforma online foi resultado de extensa pesquisa desenvolvida pelo jornal Fala Roça, motivada pela ideia de recolocar a Rocinha no mapa, literalmente. Em 2013, a favela tinha virado um borrão em mapas oficiais de turismo da cidade do Rio de Janeiro, além de a denominação favela ter sumido do Google Maps. Fundado e gerido por jovens jornalistas e comunicadores (as) crias da favela da Rocinha, o jornal lançou, em 2023, a segunda versão colaborativa do Mapa, identificando cerca de 150 iniciativas culturais (de acordo com a concepção de cultura do ponto de vista de pessoas moradoras) e criando um importante instrumento político para o reconhecimento da Rocinha – e dos seus habitantes – como pertencentes à cidade. Divulgado nas redes do Fala Roça, o Mapa Cultural contribuiu para a reinserção da Rocinha, e outras favelas, nos mapas citados. 

Na atual conjuntura, há também instituições e organizações que trabalham com a produção e disponibilização de informação e conhecimento em acesso aberto sobre as suas produções, bem como a sistematização e disponibilização de seus acervos através de suportes digitais, ferramentas essas essenciais para o acesso, preservação e disseminação de informação e conhecimento. O movimento de “acesso aberto” é um alicerce vital para o progresso intelectual e se refere à prática de disponibilizar livremente informação e conhecimento, sem barreiras de custo ou restrições de acesso (desde que se tenha acesso à internet, em grande parte dos casos). Vale lembrar que o acesso aberto é um movimento que já abarca boa parte da comunidade científica – que crescentemente também se preocupa com a sensibilidade dos dados e procura divulgá-los de maneira responsável. A novidade é que este trabalho com bases de dados abertas é uma prática mais recente para as realidades tradicionais, faveladas e periféricas. Essa possibilidade de acesso não apenas reúne documentos de forma sistematizada, mas tem como propósito fortalecer o protagonismo das comunidades produtoras de saberes ao proporcionar o acesso aos conteúdos que envolvem as suas produções e culturas. A essência desse movimento é democratizar o conhecimento, permitindo que qualquer pessoa, em qualquer lugar, tenha acesso irrestrito a informações valiosas, como por exemplo, os saberes ancestrais disponibilizados pelos movimentos citados abaixo. 

São os casos, por exemplo, do próprio Dicionário de Favelas Marielle Franco, sediado no Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT) da Fundação Oswaldo Cruz, e baseado em uma plataforma wiki, aberta, gratuita e livre,[3] que tem por objetivo favorecer a preservação da memória e identidades coletivas dos moradores e moradoras das favelas e periferias do Brasil – e do mundo – promovendo uma rede de produção coletiva de conhecimentos de maneira democrática e plural.[4] A partir do Dicionário de Favelas e de sua parceria com o Centro de Pesquisa, Documentação e Memória do Complexo do Alemão (CEPEDOCA) do Instituto Raízes em Movimento, tem sido desenvolvido o Repositório Temático Saberes Populares cuja intenção é disponibilizar diversos materiais digitais sobre as favelas e periferias do Rio de Janeiro. Outra iniciativa nesse sentido é do Museu da Maré, com o lançamento recente do Acervo Digital da Maré, cujo objetivo é disponibilizar uma parte do arquivo documental “Dona Orosina Vieira (ADOV)”. Todos os acervos são diversos, tendo livros, fotografias, vídeos e publicações acadêmicas. Isso engloba uma variedade de tipologias documentais, tendo livros, fotografias, materiais audiovisuais, artigos acadêmicos, pesquisas, dados, materiais educacionais e culturais.

Preservar e disseminar a memória é uma tarefa essencial para enriquecer a narrativa histórica do Brasil, sobretudo em se tratando de versões da história que se pretendem oficiais, contadas por detentores da “máquina do saber” que, em muitos casos, desvirtuam fatos e acontecimentos sobre realidades plurais e multifacetadas. 

A memória é um instrumento poderoso que não apenas conecta as gerações passadas e presentes, mas também fornece um alicerce sólido para o futuro, cuidando assim, das ancestralidades. É possível, portanto, pautar o direito à memória como uma questão de justiça social e alavancar o debate sobre políticas públicas nesse sentido. A disseminação da memória elaborada por favelados, periféricos, indígenas, povos quilombolas, povos ribeirinhos e comunidades tradicionais é crucial para combater estereótipos e gerar uma compreensão mais precisa sobre essas populações. O compartilhamento das histórias, desafios e conquistas, contribui para proporcionar uma visão mais abrangente sobre  a riqueza cultural e a contribuição vital desses atores para a sociedade. E quem melhor do que essas populações, que possuem profundo conhecimento da construção dos contextos de seus territórios, para levantar, produzir e sistematizar seus próprios dados (ou serem co-autoras dessa produção, se assim desejarem)?

Pretendendo ampliar a discussão sobre a Geração Cidadã de Dados (GCD) e a própria abrangência deste termo, o Dicionário de Favelas Marielle Franco apresenta, em destaque, verbete homônimo, produzido por Cristina Pedroza de Faria (Kita Pedroza), Rafael Ramires Baptista (Tecnorgânico), Renata Gracie, Thiago Ferreira, Paulo Mota (Polinho Mota). É também iniciativa do Dicionário de Favelas Marielle Franco, em parceria com grupos e instituições acadêmicas como o BONDE (IESP-UERJ), o CIDADES-Núcleo de Pesquisa Urbana (PPCIS-UERJ), o Grupo Casa (IESP-UERJ), a Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJRacial) e o Instituto Raízes em Movimento, o ciclo de debates “Produção de conhecimentos e memórias em favelas e periferias”, realizado entre setembro e dezembro de 2023, com a proposta de debater a produção de conhecimentos e a preservação de memórias em/de favelas e periferias do Rio de Janeiro nas últimas décadas, a partir do diálogo direto com atores e lideranças desses territórios. O ciclo foi composto por 5 mesas e envolveu mais de 20 grupos com atuação favelada e periférica. O material (incluindo a gravação das mesas) está disponível na plataforma do Dicionário de Favelas Marielle Franco, onde também será criado um painel sobre produção de conhecimentos em favelas e periferias do Rio de Janeiro.

(Introdução: Kita Pedroza, Thiago Ferreira, Renata Gracie e Rafael Baptista.)

Geração Cidadã de Dados

Sobre o conceito

A Geração Cidadã de Dados vem se ampliando, no Brasil, a partir de frentes expandidas de atuação, impulsionada por práticas que abrangem a participação engajada de pessoas baseadas em regiões consideradas periféricas que se mobilizam em prol de suas comunidades e da realização de estudos que possam melhorar condições de vida em locais diversos. Em processo de construção, a definição dessa prática vem ganhando contornos próprios no contexto brasileiro e se consolidando por meio de experiências diversas espalhadas por diferentes regiões do país. Em um espaço de tempo relativamente curto e com recursos ainda escassos, muitas experiências já se acumulam. 

Existente em outros lugares do mundo, esse tipo de atividade inspira pesquisadores, movimentos e outros atores sociais em favor de melhorias relativas à qualidade de vida, mas ocorre de forma diferenciada em cada lugar, uma vez que cada contexto social possui suas particularidades. A ideia principal trata de organizar e inventariar informações – reconhecer, coletar, armazenar, sistematizar, analisar -, além de divulgar relatórios que permitam apoiar ações de incidência política para cobrar dos gestores medidas mais adequadas às necessidades dos diferentes territórios ou fazer uso aplicado à mudança de contextos sociais. Os objetivos perpassam a garantia de direitos para populações submetidas a situações degradantes de vida. Cresce impulsionada pela intenção (e necessidade) de esses grupos se apropriarem (ou re-apropriarem) de dados sobre as próprias realidades vivenciadas para poder transformá-las, efetivamente. 

No contexto brasileiro, a concepção de Geração Cidadã de Dados (com essa nomenclatura específica) vem se fortalecendo em tempos recentes, associada à experiência prática. Por aqui, o conceito abarca alguns consensos, fruto de debates existentes ao menos desde 2016,[5] ainda que comporte interpretações saudavelmente diferenciadas. De acordo com quem atua nessas frentes de trabalho e pesquisa, a GCD é descrita como um conjunto de metodologias e ações práticas, realizadas por diferentes organizações, coletivos e instituições de modo colaborativo, visando contribuir para a transformação social. Mas isso não é tudo. 

Algumas organizações, movimentos e coletivos situados em contextos periféricos e favelados vêm trabalhando de maneira sistemática, nos últimos anos, com essa forma de fazer pesquisa, além de estabelecer parcerias com fundações, institutos, organizações sem fins lucrativos e outras instituições de ensino e pesquisa. São os casos do Data_labeLabJacaCasa FluminenseInstituto Fogo CruzadoJornal Fala RoçaRedes da MaréMuseu da MaréInstituto Raízes em Movimento (CEPEDOCA), das Redes Conexões Periféricas Favela Sustentável, entre outros, no Rio de Janeiro, além de diversas iniciativas pelo Brasil afora. Nesse contexto, jovens moradores de favelas e outras quebradas se especializam, cada vez mais, em diferentes áreas de conhecimento – da filosofia, relações internacionais e ciências sociais, aos cursos de tecnologia da informação, estatística e ciências de dados, passando por comunicação e biblioteconomia. Formação acadêmica, experiência profissional, conhecimentos científicos e empíricos se unem a saberes tradicionais nas lutas por direitos. 

Conforme documento-guia[6] disponibilizado pelo Data_labe (organização que se define como “laboratório que promove a democratização do conhecimento por meio da geração, análise e divulgação de dados”), geração cidadã de dados é “um conjunto de ações que possibilitam aos cidadãos, gerar, recolher e utilizar dados para benefícios de suas comunidades ou coletivos”. De autoria de Paulinho Mota e Gilberto Vieira, o texto indica alguns passos para desenvolver um trabalho com GCD. 

Em 2017, o texto ‘Mas o que é geração cidadã de dados?’ já sugeria princípios essenciais para singularizar e diferenciar a GCD de outras formas de coleta e tratamento de dados. Escrito por Fábio Silva, afirma que geração cidadã de dados é “toda coleta de dados feita de maneira coletiva, que tenha uma função ativista e objetiva, em formato aberto e público, em que os usuários estejam conscientes do propósito dos dados”. Em resumo, sua base se assenta em quatro pilares: é uma prática “coletiva; aberta; a partir da perspectiva de participação política; e consciente”. Esse artigo publicado pelo Data_labe, sediado no conjunto de favelas da Maré, já citava como “alternativas à escassez de informação” algumas iniciativas como Defezap, Fogo Cruzado e Cocozap, projetos pioneiros voltados para mapear, respectivamente, agressões e abusos do Estado, tiroteios nos centros urbanos e seus impactos, além do saneamento básico em favelas e periferias.

Em outro artigo publicado recentemente (2023),[7] integrantes das equipes do Data_labe e da Casa Fluminense, acrescentaram ao seu entendimento sobre a GCD a ideia de ser “uma nova camada na militância de nossas vidas e organizações”, fazendo referência não só à prática diferenciada da pesquisa associada ao engajamento político como ao marco temporal de uma nova geração de pessoas que reconhece o valor simbólico, histórico e estratégico de seus modos de vida e se apropria de métodos para estruturá-los em forma de dados (qualitativos e/ou quantitativos). Assim, estão surgindo novas bases de dados – abertas –, que fortalecem perspectivas descentralizadas de narrar o mundo, estão sendo criados acervos e repositórios para armazená-los, ou seja, está ganhando corpo uma ferramenta poderosa na luta por direitos.

O fazer político associado a esses levantamentos de dados foi enfatizado também por Gilberto Vieira, co-fundador do Data_labe. No texto ‘Geração Cidadã de Dados: um fazer político’ (2018), ele complementou: “No bojo dos debates internacionais, viemos trabalhando com o conceito de Geração Cidadã de Dados no qual a produção independente de bases estruturadas de informações representa uma frente ativa de acesso ao debate público e à formulação de políticas. É ação direta e cidadã em um campo negligente, racista, elitista e machista”.

E se já estava evidente a forma ineficaz como, não raro, o poder público lida com dados relativos a regiões faveladas, periféricas e assentamentos informais, em 2019, a eclosão da pandemia escancarou ainda mais essa realidade espalhada por todo o país. Conforme a ementa do seminário que teve como tema Pesquisar nas Favelas é ‘Nós Por Nós’ (realizado pelo Icict/Fiocruz), “a pandemia de COVID-19 deixou transparecer um grave problema nas favelas do Rio de Janeiro: a falta de dados sobre quem vive nelas. As subnotificações encobriram a gravidade da situação e dificultaram o enfrentamento da doença durante o período mais crítico”. Essa situação impulsionou ainda mais o engajamento de movimentos e moradores na coleta de dados e na produção de diagnósticos mais condizentes com as realidades que vivenciavam. Diferentes coletivos, associações, veículos jornalísticos de favelas e comunicadores comunitários se mobilizaram para mapear casos no seu entorno, mesmo com recursos escassos. 

Vale lembrar que o levantamento de dados brasileiros relativos à COVID-19, tornando-os acessíveis, ocorreu também nas áreas ditas formais, já que, no período inicial da pandemia estendido por longo tempo, o Ministério da Saúde não estava sistematizando os casos e os óbitos. Diante dessa situação, a organização não governamental Brasil.IO (Repositório de dados públicos disponibilizados em formato acessível) começou a levantar estes dados de interesse público a partir de consultas junto às secretarias estaduais de saúde no Brasil. A John Hopkins University, que fez o levantamento mais utilizado em todo o mundo, continuou utilizando estes dados posteriormente e o Monitora COVID-19, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica da Fundação Oswaldo Cruz, também os utilizou quando o Ministério da Saúde passou pelo apagão de dados, ao ter seus os sistemas computacionais invadidos por hackers. Veja mais sobre o assunto AQUI.

Escutando quem faz

“E esse povo é capaz de reconstruir toda a fauna e flora desse lugar onde quase não existem mais bichos e plantas… conseguem ver a floresta e invocar o nome de todos os insetos, os répteis, os pássaros, os animais peçonhentos, as plantas(…) Qualquer estudioso ficaria admirado com esse inventário e com a maneira que eles são capazes de restituir a essa terra a presença de seres que já foram extintos: os Maxakali estão ali representando todo esse gradiente de vida”, Ailton Krenak (2002, p. 35).[8]

“Meu bisavô dominava toda a cadeia produtiva da cana, do plantar até fazer açúcar. Minha tia-avó, Mãe Joana, detinha todo o saber da lavoura do algodão: plantava, colhia, fiava, tecia, tingia e fazia a roupa. Tio Norberto plantava cana e entregava a rapadura pronta, e fazia o engenho e o carro de boi. Então nós, pretos, tínhamos um poder enorme, um saber extraordinário”. Nego Bispo, em entrevista ao Outras Palavras.[9]

À sua maneira, outras pessoas pesquisadoras, professoras, fundadoras de coletivos, articuladoras de movimentos locais etc também corroboram a importância da incidência política na GCD, ou seja, a aplicação dos dados para a efetivação da garantia de direitos. Seguem vozes participantes desse movimento, trazendo as suas contribuições sobre o tema, de acordo com suas experiências.

“Dados cidadãos são aqueles que possibilitam aos cidadãos gerarem, recolherem e utilizarem dados para benefício de suas comunidades e coletivos”, explica Polinho Mota, coordenador de dados no Data_labe e doutorando em Epidemiologia e Ciência de Dados Populacionais (UFRJ). 

“A geração cidadã de dados, pra gente, são dados que de algum modo servem para fortalecer a garantia de direitos para moradores do meu território; não só do meu, mas de todos os territórios esquecidos pela gestão pública, lugares com subnotificação, ou sem informação sobre as violações dos direitos básicos, como saneamento básico, energia elétrica, acesso a emprego, educação e tantas outras coisas que desconhecemos em dados ou reportagens, mas que conseguimos – a olho nu – ver e, ao mesmo tempo, vivenciar na pele esses descasos da gestão pública. Mas quando levamos esses problemas como denúncia, a nossa palavra não é suficiente. Apresentar os dados funciona como ferramenta de validação pras nossas vivências”. Tecnorgânico (R. Ramires), co-fundador do coletivo InfoCria. Graduado em Tecnologias Educacionais (Estácio de Sá) e pós-graduando em Computação Aplicada à Educação (USP). 

“O que é geração cidadã de dados pra gente? É como que a gente constrói, desenvolve e apropria metodologias para gerar dados de forma cidadã, coletiva, com objetivo de transformação das nossas próprias comunidades”. Clara Sacco, co-fundadora e coordenadora do Data_labe. Graduada em Estudos de Mídia (UFF).

“A ideia de geração cidadã de dados é que a gente tenha grupos de periferias comunidades e favelas que são marginalizados, historicamente olhados pela academia como objetos de pesquisa, que esses grupos passem a ser protagonistas no processo de geração de dados, de conhecimento e se empoderem a partir desses dados. A intenção é poder reivindicar mudanças, pautar políticas públicas,  pautar intervenções nos seus territórios a partir das suas prioridades, a partir dos seus entendimentos que vieram através desses dados coletados comunitariamente, coletivamente.” Fala de Kayo Moura, no seminário do ICICT/Fiocruz, com o tema “Pesquisar nas Favelas é ‘Nós Por Nós’” (15/09/23). Kayo é analista de dados e coordenador de pesquisas no LabJaca, Laboratório de pesquisas e narrativas sobre favelas e periferias. Graduado em Relações Internacionais (PUC-Rio), graduando em Estatística (Escola Nacional de Ciências Estatísticas  – ENCE/IBGE) e mestrando em Ciência Política (IESP/UERJ). 

“Acredito que seja uma prática antiga, mas que não havia sido conceituada, apesar de espontaneamente muitos povos já possivelmente a realizarem. O levantamento de dados nem sempre precisa de legitimação de instituições para corresponder à realidade; uma anotação num papel de pão, feita por quem vive aquela realidade, pode e deveria servir como base de dados para acolher as experiências daquele indivíduo. Sendo assim, não duvido que esse movimento possa ter acontecido em comunidades tradicionais, aconteça em comunidades quilombolas e outras comunidades autogeridas. Na minha comunidade, essa ação sempre foi realizada pelas associações de moradores – levantar quantos moradores não têm acesso a água, quantos não têm ou possuem redes elétricas estáveis, isso tudo era feito manualmente, em planilhas de papel, que serviam para os interesses das próprias associações”. Tecnorgânico (R. RAmires)

“Não se tem uma data marcada oficialmente para essa prática, estudos norte americanos apontam para o início do século XXI como um marco dessa prática, mas ainda dentro do escopo de ciência cidadã”, Polinho Mota (Paulo Mota).[10]

Eventos e estudos no cenário da GCD

Ações conjuntas e estudos envolvendo metodologias relacionadas à geração de dados vêm ganhando maior escala no Brasil. Para se ter uma ideia, apenas em 2023 foram realizados ao menos quatro eventos dedicados ao tema da GCD e assuntos correlatos, organizados por grupos do Rio de Janeiro e São Paulo. O I Seminário de Geração Cidadã De Dados, promovido pelo Data_labe e Casa Fluminense, reuniu pesquisadores e participantes de cerca de 20 organizações e movimentos (Data_labe, Casa Fluminense, Visão Coop, Lab Jaca, Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (GEMAA)/IESP-UERJ, OCA/IPP, Fórum Estadual de Travestis e Transexuais do Rio de Janeiro (TTRJ), Censo da Providência, Pipa , Movimentos, Agenda Realengo, Observatório do Marajó, CESeC, Lavits, Plantaformas, De olho na Maré, Gênero e Número, Fogo Cruzado, InfoCria).  

No mesmo ano, o tema foi debatido em um seminário do Centro de Estudos do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT) da  Fundação Oswaldo Cruz, denominado “Pesquisar nas Favelas é ‘Nós Por Nós’”, com as presenças de Renata Gracie (Tecnologista em Geoprocessamento e Coordenadora do Laboratório de Informações em Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (LIS/Icict/Fiocruz) e Kayo Moura (analista de dados e coordenador de pesquisas no LabJaca).

Já o Dicionário de Favelas Marielle Franco organizou o Ciclo de debates Produção de Conhecimentos e Memórias em Favelas e Periferias, em parceria com o BONDE (IESP-UERJ), o CIDADES-Núcleo de Pesquisa Urbana (PPCIS-UERJ), o  Grupo Casa (IESP-UERJ), a Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJR), o Instituto Raízes em Movimento e o Radar Saúde Favela (Fiocruz).

Museu das Favelas, baseado em São Paulo, realizou o I Seminário de Pesquisa Favela é o Centro, organizado pelo CRIA – Centro de Referência, Pesquisa e Biblioteca. Teve como objetivo “reunir pesquisadores e institutos de pesquisa para debaterem os mais recentes estudos e publicações que tratem das favelas e periferias brasileiras”.

 Antes de apresentar exemplos de estudos realizados com uso das metodologias da geração cidadã de dados, acreditamos ser importante situar brevemente o que são dados, afinal. Lembrando que não é nossa intenção aprofundar essa questão extensa por aqui, seguem alguns entendimentos sobre o assunto: para Fábio Silva, dados são “um conjunto de informações sistematizadas e estruturadas que respondem a um determinado interesse ou objetivo. Mesmo de maneira inconsciente, estamos gerando dados o tempo todo pelos nossos celulares”.[11] Já Renata Gracie pondera: “Penso que dados são casos, óbitos, população, domicílios com solução de esgotamento por fossa… Quando transformamos estes dados levantados, de diferentes maneiras, transformamos em indicadores, que são informações passíveis de ser interpretadas, pois não estamos deixando de ponderar população ou número de domicílios; estamos utilizando, por exemplo, taxa de incidência de alguma doença, taxa de mortalidade de uma dada doença, proporção de domicílios com solução de esgoto por fossa. 

Seguem exemplos de alguns, dentre os diversos estudos e iniciativas realizadas com base na GCD no Brasil.  

  • Painel Unificador de COVID-19 nas Favelas (PUF) 

Painel Unificador COVID-19 nas Favelas é uma plataforma – www.favela.info – que reúne dados sobre o alcance da COVID-19 em favelas do Rio de Janeiro e Região Metropolitana. Foi desenvolvido, em 2020, diante da indisponibilidade de dados públicos adequados sobre esses territórios da cidade, a partir da reunião de coletivos e organizações sem fins lucrativos, com o apoio tecnológico da prefeitura do Rio de Janeiro, de técnicos da Imagem, empresa distribuidora de software de ambiente de Sistemas de Informações Geográficas do ArcMap da Esri no Brasil, da Fundação Oswaldo Cruz, através do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT), por meio de seu Laboratório de Informação em Saúde (LIS). Nesse caso, ao todo, 24 coletivos de favelas do Rio de Janeiro e parceiros trabalharam em conjunto para desenvolver o PUF, contando com a organização da Comunidades Catalisadoras (ComCat), responsável pela criação da plataforma. 

De acordo com Informações publicadas no painel, “Se trata de uma pesquisa cidadã, cujas fontes são uma rede confiável de mobilizadores, organizações e comunicadores de favela, além de dados públicos. Mais recentemente, optamos por uma metodologia de Zona de Influência de Códigos de Endereços Postais (CEPs), identificando os que melhor representam áreas de favela, começando pelas mais populosas “. Seu objetivo é contribuir com o “processo de prevenção e mitigação da COVID-19 nas favelas do Rio de Janeiro, para que moradores possam ter maiores dados sobre a presença e o alcance da doença em suas comunidades, para se organizarem e terem mais uma ferramenta para solicitar apoios aos órgãos competentes”. Sobre a metodologia do PUF, mais informações AQUI.

“A proposta é que, posteriormente, este banco de dados com a identificação dos CEPs de mais de 80% das favelas do município do Rio de Janeiro, construído durante o período mais grave da pandemia da COVID-19, possa ser utilizado em situações de futuras emergências, de modo que os gestores possam tomar medidas mais adequadas e a sociedade possa cobrar ações mais oportunas. O interessante é que este método empregado possa ser replicado em outros municípios brasileiros”, explica Renata Gracie, que integrou a equipe de elaboração do PUF e do desenvolvimento da metodologia do mapeamento por áreas de influência dos CEPs.

Quando a situação sanitária foi se aliviando, o grupo que se encontrava virtualmente toda semana diminuiu a frequência de encontros e todos perceberam a potência que era essa reunião de coletivos distribuídos pela Região Metropolitana do Rio de Janeiro. E com a atenção no aumento da frequência e intensidade das ocorrências dos eventos extremos, sem falar na diminuição do intervalo entre um evento e outro incrementadas devido às mudanças climáticas, entendeu-se que era importante a manutenção deste grupo para o desenvolvimento de uma formação das lideranças juntamente com os jovens dos territórios favelados que participaram do PUF. Entende-se também a importância da discussão deste tema por estas populações, já que em geral os mais afetados nos eventos extremos são as populações periféricas de uma maneira geral.[12]

  • Curso de Pesquisa em Justiça Hídrica e Energética 

As experiências e redes formadas, entre coletivos e parceiros, durante o período da pandemia fortaleceram novas ações de compartilhamento de saberes inclusive sobre a prática de pesquisa e sistematização de conhecimentos aplicados a contextos de vulnerabilidade. Especialmente os acúmulos de vivências com a construção do Painel Unificador das Favelas estimularam a continuidade das trocas sobre metodologias de coleta de dados e a consciência da possibilidade da realização coletiva de pesquisas. A partir daí, diversos debates resultaram na escolha dos temas da água e da energia elétrica como foco central de interesse. Essa foi a origem da iniciativa do Curso de Pesquisa em Justiça Hídrica e Energética, voltado para o compartilhamento de saberes relativos à pesquisa de forma participativa. 

“Os inúmeros problemas de acesso, qualidade e eficiência da água e da luz nestes locais, apesar de amplamente noticiados e conhecidos por seus impactos negativos na prevenção da COVID-19, jamais foram tratados como prioridade pelo poder público. Foi no âmbito das discussões desses temas e suas consequências na vida dos moradores, que os integrantes do Painel Unificador COVID-19 nas Favelas tiveram a ideia de realizar um curso de pesquisa voltado às questões de água e luz nas favelas, que ano a ano vem tornando seus territórios cada vez mais desamparados”. Fonte: Painel Unificador das Favelas | ComCat (www.favela.info)

Ao longo de seis meses de curso, foram construídas as habilidades para a realização desses estudos, assim como foi feito um extenso levantamento de dados sobre os acessos à água e luz por 45 jovens e lideranças de 15 comunidades. 

Assista ao documentário do curso

A iniciativa foi da Rede Favela Sustentável e do Painel Unificador das Favelas, com colaboração de oito instituições, que ofereceram o curso. Foram realizadas entrevistas com 4.164 pessoas, entre maio e junho de 2022, produzindo resultados sobre acesso, qualidade e eficiência relativas à água e luz em áreas de favelas de cinco municípios do Grande Rio. Veja os resultados AQUI.

Iniciativa desenvolvida pelo Data_labe, desde 2018, com objetivo de contribuir para melhorar as condições de esgotamento sanitário na região de favelas da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Trata-se de um aplicativo que permite aos moradores enviarem indicadores de problemas relativos ao saneamento básico e ao lixo nos lugares onde vivem.

Projeto pioneiro no Rio de Janeiro, atua em parceria com a Casa Fluminense e a Redes de Desenvolvimento da Maré, elaborando diversas ações de mapeamento, incidência política e promoção de participação cidadã voltadas para garantir o direito ao saneamento básico nas favelas.

Aplicativo que recebe e divulga informações sobre tiroteios e disparos de arma de fogo nas regiões metropolitanas do estado do Rio de Janeiro e da cidade do Recife.

Amplamente acessados, os dados disponíveis na plataforma online desenvolvidos pelo Instituto Fogo Cruzado se tornaram referência dentro e fora do Brasil, para as mídias corporativa, independente e comunitária, pesquisadores, órgãos da gestão pública, entre outros.

Com metodologia própria, monitora tiroteios nos centros urbanos e seus impactos. Produz mais de 20 indicadores sobre violência armada e pretende expandir o alcance para outras cidades brasileiras. 

“Estas informações estão disponíveis no primeiro banco de dados abertos sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente na nossa API”. Fonte: Instituto Fogo Cruzado

Elaborado pela Casa Fluminense, o Mapa da Desigualdade reúne um conjunto de indicadores socioeconômicos sobre os municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que resultam da análise de três fontes: bases governamentais, empresariais e a Geração Cidadã de Dados (GCD), organizados a partir dos eixos das justiças econômica, racial, de gênero e climática. Fonte: Mapa da Desigualdade

Em sua quarta edição, o Mapa da Desigualdade 2023 trouxe a inovação do uso de uma ferramenta voltada para permitir consulta e download dos dados apresentados na publicação.

  • InfoLambe

O projeto InfoLambe, que será lançado em breve, desenvolveu uma pesquisa sobre o impacto das enchentes no bairro Chacrinha. em Nova Iguaçu. A ação foi realizada pelo coletivo InfoCria em parceria com o grupo BXDLambe.

“Estamos levantando, por exemplo, um dado inédito sobre a quantidade de pessoas que sentem medo da chuva nesse território e quantas pessoas compreendem sobre a responsabilidade do governo com relação aos danos gerados pelas enchentes”, adianta R. Ramires, co-fundador do InfoCria. 

Na InfoCria, são levantados indicadores de autonomia digital, para entender como nossas turmas se encontram em relação a suas habilidades no uso de tecnologias digitais. Procuramos entender como elas lidam com o acesso à internet, se sabem ou não usar determinadas plataformas e aplicativos e, quando sabem, o quanto sabem, se consideram suas habilidades de nível iniciante, intermediário e assim por diante. Esses dados, reunidos, nos permitem visualizar para qual ferramentas podemos dar foco em nossas formações em Letramento Digital e entender também um panorama geral sobre as habilidades digitais da nossa comunidade e nosso público foco no projeto”. 

Sobre as metodologias usadas pelo InfoCria, ele explica: “Usamos metodologias de pesquisa quantitativa e qualitativa, coletamos dados através de formulários simples, dando preferência ao uso de softwares livres para essa coleta, sempre que possível, e quando o público foco também pode acessar essas ferramentas. Isso varia conforme o projeto, o tempo que temos e a profundidade/quantidade de dados a serem coletados. Armazenamos tudo em planilhas e geramos as visualizações a partir delas. Temos sempre a prerrogativa de popularizar o que geramos de dados, através de peças artísticas, dentro das oficinas que aplicamos e conforme as ideias que surgem durante esse processo, voltadas a essa disseminação dos dados.

  • Pesquisa “Periferias e Filantropia – As barreiras de acesso aos recursos no Brasil”

Pesquisa sobre o cenário da filantropia e o investimento social privado, realizada pela Iniciativa PIPA, em parceria com o Nubank, com objetivo de “analisar a descentralização dos recursos privados para viabilizar as ações e os projetos daqueles que estão na ponta”, de acordo com o site da Iniciativa PIPA.

Realizada em 2022, a pesquisa se propôs a analisar e entender quais as principais barreiras e dificuldades para acessar o Recurso Social Privado. Buscou-se compreender quais as principais dificuldades e barreiras que as iniciativas localizadas em favelas encontram para captar recursos. Se, no período mais intenso da pandemia da Covid-19 as doações filantrópicas aumentaram, em seguida, coletivos, associações, Ongs, entre outros, relataram realidades locais de diminuição desses recursos e permanência ou agravamento de problemas socioeconômicos vivenciados. A pesquisa mapeou cerca de 1000 iniciativas que atuam “na ponta”, em áreas de periferia, em todas as regiões geográficas do país e buscou saber seu perfil, como atuam e sobre a sua sustentabilidade. Sobre os recursos movimentados, buscou compreender questões como “Quais recursos estão chegando ou não? Por que chega e/ou por que não chega para quem mais precisa e/ou ocupa os espaços mais periféricos, em diferentes partes do território brasileiro, seja urbano ou rural?”. Também feito por pesquisadores de favelas, abrangeu as 05 regiões do Brasil: Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste e de 10 Estados diferentes: São Paulo, Rio de Janeiro, Amazonas, Pará, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Goiás, Pernambuco, Bahia e Ceará.

No cenário futuro, o estudo pretende auxiliar o Investimento Social Privado e a Filantropia a criar soluções que ampliem o impacto da alocação de recursos no país.

Acesse o relatório da pesquisa AQUI.

.Cadernos do Marajó, Edição Especial – 40 dias de Marajó com Coronavírus.

Levantamento produzido pelo Observatório do Marajó, contendo dados sobre o contexto social da região e seus municípios – características da população, suas condições de moradia, acesso à água e saneamento, oferta de atendimento de saúde – assim como o histórico de casos de coronavírus e as ferramentas de transparência e comunicação adotadas pelas Prefeituras do Marajó. Acesse o estudo AQUI.

.Projeto Filhas da Mãe do Fogo

O projeto Filhas da Mãe do Fogo tem objetivo de criar soluções sustentáveis de combate e manejo do fogo, diante do aumento de queimadas em municípios da Ilha do Marajó.

“Os municípios do Marajó como Bagre, Curralinho e Soure, mais que dobraram os focos de queimadas. Melgaço, Salvaterra e Ponta de Pedras tiveram um aumento de 80%, de acordo com a matéria “As filhas da Mãe do Fogo são netas da terra!” do Observatório do Marajó, publicada no Medium.

Para tanto, trabalha com a reconexão de mulheres marajoaras às técnicas e práticas sustentáveis de monitoramento e controle do fogo em seus territórios. Isso se dá por meio de elementos como a recuperação de lendas locais, como forma de repensar a relação das comunidades com o fogo, e do mapeamento das comunidades afetadas pelo fogo.

Em janeiro de 2023, o Jornal Fala Roça, fundado e editado por jovens jornalistas e comunicadores (as) crias da favela da Rocinha, lançou a nova versão do Mapa Cultural da Rocinha. Resultado de extensa pesquisa feita na favela, o Mapa não só identificou cerca de 150 iniciativas culturais, de acordo com pontos de vista de pessoas moradoras, como é também um importante instrumento político para o reconhecimento da Rocinha – e dos seus habitantes – como pertencentes à cidade. 

Além do histórico de políticas públicas insuficientes nesses locais, os episódios de exclusão de favelas de mapas oficiais da cidade do Rio de Janeiro, que vêm acontecendo com certa frequência ao menos desde 2013, apontam para um apagamento também cartográfico das favelas e periferias cariocas. Outro ponto relevante é a possibilidade de reforçar a reivindicação de melhorias nos equipamentos culturais públicos locais.

Acesso o mapa e seus resultados AQUI.

A GCD pelo mundo 

A Geração Cidadã de Dados (GCD) representa um fenômeno global relacionado à crescente discussão e participação de cidadãos na coleta e interpretação de dados para influenciar questões globais. Essa abordagem transcende fronteiras e, para além dos estudos desenvolvidos no Brasil, há um incentivo direto voltado para indivíduos, em diferentes partes do mundo, envolverem-se ativamente na produção de informações relevantes para desafios sociais, de saúde, ambientais e políticos em escala global. A Geração Cidadã de Dados no mundo reflete a noção de que a colaboração e a participação da sociedade civil são fundamentais para a resolução de problemas em nível internacional, nacional e local. 

Com base nisso, diversos autores apresentam em suas produções alguns dos conceitos, termos e aplicações da GCD em suas realidades. À nível nacional e local, a pesquisadora Thaís Gonçalves Cruz (IESP-UFRJ) desenvolveu uma dissertação intitulada: “Quando os crias (se) contam: a produção de dados alternativos nas favelas cariocas” (2022), nos dando como exemplo a aplicação da GCD, tendo por foco um movimento favelado, o LabJaca (laboratório de produção de dados), a pesquisa teve por objetivo “refletir a respeito das dinâmicas e os aspectos existentes quando os crias (se) contam”. A autora explica que: “a frase em destaque e que dá título ao seu trabalho não foi uma escolha aleatória ou uma simples síntese, na verdade, busca trazer a multiplicidade da temática com duas dimensões principais. Trata-se de olhar para aqueles que contam nas favelas, abarcando as auto contagens e as demais, mas também refletir que eles contam uns com os outros para produzir os dados nestes territórios”. Acesse a dissertação AQUI

O termo Geração Cidadã de Dados é derivado do inglês “citizen-generated data” e Frederico Piovesan (pesquisador da Politecnico Di Torino), em sua obra Statistical perspectives on citizen generated data – Perspectivas estatísticas sobre dados gerados por cidadãos, explica que “dados gerados por cidadãos (GCD) são dados que pessoas ou suas organizações produzem para monitorar diretamente, exigir ou impulsionar mudanças em questões que as afetam. São ativamente fornecidos pelos cidadãos, oferecendo representações diretas de suas perspectivas e uma alternativa aos conjuntos de dados coletados por governos ou instituições internacionais. Um número crescente de iniciativas de GCD em todo o mundo utiliza diversos métodos e tecnologias para coleta de dados para pesquisa, conscientização e defesa. O autor ressalta alguns exemplos de como os dados são coletados, cada qual com as suas particularidades: “variam desde questionários tradicionais em papel, SMS e transmissões de rádio, até a coleta de dados georreferenciados (incluindo texto e mídia) por meio de smartphones” (PIOVESAN, 2015). Você pode acessar o documento na íntegra AQUI

Na coletânea recente The Science of Citizen Science – A Ciência da Ciência Cidadã – (Vohland, 2021), diversos autores escreveram sobre a GCD. O conteúdo é dividido em três partes; a primeira, intitulada “Ciência Cidadã como Ciência”, explora a integração da ciência cidadã à chamada ciência moderna. Ganham destaque a crescente visibilidade dos cientistas cidadãos e o aumento de publicações sobre o tema. A discussão inclui a filosofia da ciência cidadã, ressaltando o conhecimento como um bem comum. São abordados aspectos das ciências naturais, humanidades e ciências sociais, enfocando desafios específicos. A tecnologia é reconhecida como crucial para o avanço da ciência cidadã, apresentando técnicas relevantes. Nesse sentido, questões como qualidade de dados, modelos conceituais e machine learning são discutidas. A colaboração científica na ciência cidadã é explorada, lançando mão do conceito de co-criação. Por fim, esse bloco do livro examina a interseção entre ciência cidadã, saúde e justiça ambiental, considerando desafios e a reconciliação de objetivos distintos. 

A parte dois, “Ciência Cidadã na Sociedade”, aborda o fato de a ciência cidadã contribuir para o conhecimento científico, mas também enfrentar desafios sociais. Destaca a flexibilidade necessária em temas como participação, inclusividade, aprendizado, inovação social, envolvimento de organizações da sociedade civil, relações com políticas, impacto ambiental e ética. Portanto, a ênfase recai sobre a importância de abordagens adaptáveis para uma integração eficaz da ciência cidadã.  

Já na terceira e última parte do livro “Ciência Cidadã na Prática”, explora-se a implementação prática de projetos de ciência cidadã, destacando ferramentas e instrumentos essenciais para um bom desenvolvimento de metodologias e aplicações. A diversidade enriquecedora da ciência cidadã se revela nas atividades práticas, exigindo inclusividade em práticas, conteúdo e procedimentos metodológicos. Desafios específicos incluem a comunicação eficaz, essencial para o engajamento público, e a avaliação de projetos de pesquisa que adotam uma abordagem participativa. O interesse crescente de instituições reflete a busca por impacto positivo, embora muitos projetos enfrentem limitações devido à falta de aceitação pública, interesse das partes interessadas ou qualidade de dados. Os capítulos dessa última parte abordam diretrizes, plataformas, aplicativos móveis e web, comunicação e relações públicas, bem como estratégias de avaliação participativa. Essa seção destaca a importância de abordagens adaptáveis e inclusivas para efetivamente conectar ciência cidadã à sociedade. Acesse o livro AQUI

A disseminação global da Geração Cidadã de Dados (GCD) representa,  não apenas uma revolução na coleta de informações, mas um movimento poderoso que transcende fronteiras geográficas e enredos apenas acadêmicos, o protagonismo de movimentos sociais e organizações locais. Como evidenciado pelos estudos apresentados, como a pesquisa de Cruz (2022) nas favelas cariocas, e obras como The Science of Citizen Science e Statistical perspectives on citizen generated data, a GCD está se consolidando como uma abordagem essencial para envolver toda uma população global na produção e interpretação de dados relevantes para os seus contextos. Este fenômeno desempenha um papel fundamental, pois não apenas enriquece o conhecimento científico, mas também desempenha extrema importância na defesa de territórios, movimentos sociais e na construção de narrativas por quem vivencia os contextos nos territórios. 

A GCD emerge como uma ferramenta valiosa para capacitar as comunidades a monitorar, exigir mudanças e impulsionar iniciativas em questões sociais, de saúde, ambientais e políticas. À medida em que as instituições e pesquisadores exploram a implementação prática da ciência cidadã, é crucial reconhecer a importância de abordagens adaptáveis e inclusivas para conectar efetivamente a Geração Cidadã de Dados à sociedade, promovendo assim um impacto positivo, duradouro e sustentável para os movimentos produtores de dados no mundo. 

Materiais visuais e audiovisuais

1) I Seminário de Geração Cidadã de Dados  – organizado pelo DATA_LABE e Casa Fluminense
1.1) Primeiro dia: conhecendo e navegando pela Geração Cidadã de Dados 

1.2) Segundo dia: comunicação e tecnologia como ferramentas para GCD 

2) Pesquisar nas Favelas é ‘Nós Por Nós’ – organizado pelo Centro de Estudos do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde

3) Painel Unificador COVID-19 nas favelas – Dados salvam vidas – organizado pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde com a participação dos grupos: Comunidades Catalisadoras (ComCat), Coletivo Conexões Periféricas – RP, DataLabe, Fala Roça, Favela Vertical, Fiocruz, Fórum Grita Baixada, Frente de Mobilização da Maré, Mulheres de Frente, Observatório de Favelas, PerifaConnection, Redes da Maré – Somos Todos Maré, TETO e Voz das Comunidades.

4) Censo de favelas – Produção autônoma de dados – organizado pelo BONDE (IESP-UERJ), CIDADES-Núcleo de Pesquisa Urbana (PPCIS-UERJ), Dicionário de Favelas Marielle Franco (ICICT – FIOCRUZ), Grupo Casa (IESP-UERJ), Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJR), Instituto Raízes em Movimento e Radar Saúde Favela (FIOCRUZ).

5) Seminário de Pesquisa – favela é o centro –  organizado pelo Museu das Favelas

5.1) Levantando dados: metodologias de pesquisa de campo na quebrada

5.2) Cartografias periféricas: até onde vai meu mapa

Lista de movimentos, coletivos, organizações e iniciativas

Abaixo segue uma lista dinâmica (sempre em construção) de movimentos, coletivos, organizações e iniciativas atuantes com Geração Cidadã de Dados (GCD) e produção de informação e conhecimento nas favelas e periferias brasileiras. Colabore!

Fonte inicial: Polinho Motta (Coordenador de dados no Data_Labe)

  1. Agência Tatu
  2. Agenda Realengo 
  3. Antra – Associação Nacional de Travestis e Transexuais
  4. Base de Dados
  5. BXDLambe
  6. Casa Fluminense
  7. Coletivo Martha Trindade
  8. Conexão G – Grupo LGBT nas favelas
  9. Data Privacy Brasil
  10. De Olho na Quebrada SP – UNAS Heliópolis e Região
  11. Fiquem Sabendo
  12. Fogo Cruzado
  13. FOMA / Quilombo do Feital
  14. GEMAA – Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa – UERJ
  15. Grupo Casa – IESP
  16. ICP – Instituto de Ciências Penais 
  17. Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial
  18. INESC – Instituto de Estudos Socioeconômicos
  19. InfoCria
  20. Intervozes – Coletivo Brasil de comunicação social
  21. Instituto Alziras
  22.  Instituto Raízes em Movimento
  23. JARARACA – Laboratório de Tecnopolíticas urbanas – PUCPR
  24. LabJaca
  25. LEAU –  Laboratório de estudos das águas urbanas – UFRJ
  26. LGBT+Movimento
  27. Mandí
  28.  Mulheres Negras Decidem
  29. Nossa BH
  30. O Panóptico
  31. Observatório da Branquitude 
  32. .Observatório de favelas
  33.  Observatório do Marajó
  34.  Observatório dos Trens 
  35.  OCA – IAB – Observatório Colaborativo da agenda urbana Fluminense 
  36.  Open Knowledge Brasil  – Escola de Dados
  37.  Oxfam Brasil
  38.  O PiPA
  39.  Iniciativa PIPA
  40.  Plano Santa Cruz 2030 – ISCS
  41.  PretaLab_ – olabi
  42.  SETA – Sistema de Educação por uma transformação Antirracista
  43. Rede de Observatório de Segurança / CESEC – Centro de Estudos de Segurança e Cidadania
  44. Rede Favela Sustentável – COMCAT – Comunidades Catalisadoras
  45.  Rede Nossa São Paulo
  46.  Redes da Maré
  47.  IRI – Instituto de Relações Internacionais -PUCRJ
  48.  Uniperiferias – Instituto Maria e João Aleixo
  49.  Visão COOP

Notas

[1] Fonte de informação sobre sobre favelas do Rio Janeiro: Instituto Pereira Passos, SABREN – Sistema de Assentamentos de Baixa Renda. Link: https://sabren-pcrj.hub.arcgis.com/pages/favelaquadroresumo. Acessado em 15/01/2023.

[2]  Os desafios dos dados (Censo Demográfico 2020… 2022): Precisamos abordar o elefante na sala

[3] O conteúdo do Dicionário de Favelas Marielle Franco é disponibilizado de forma livre, nos termos da licença Creative Commons SA 3.0. Tal licença autoriza qualquer pessoa a criar, copiar, modificar e distribuir conteúdo do Dicionário de Favelas, à condição de conservar esta mesma licença em usos posteriores, assim como creditar os autores originais. Desse modo, os verbetes do Dicionário de Favelas não possuem um dono, mas os colaboradores serão registrados na plataforma de modo a assegurar os direitos autorais.

[4] Já são mais de 2.000 verbetes inscritos na plataforma do Dicionário de Favelas Marielle Franco, com cerca de 1.200 colaboradores cadastrados. 

[5] Geração cidadã de dados: quando a própria população busca soluções

[6] GERAÇÃO CIDADÃ DE DADOS

[7] Geração cidadã de dados: quando a própria população busca soluções

[8] Krenak, Ailton. Futuro Ancestral, editora: Companhia Das Letras, São Paulo, 2022.

[9] Nêgo Bispo: Um guerreiro dos saberes ancestrais

[10] Ver mais em: https://www.nature.com/articles/s41599-022-01135-2

[11]  Mas o que é geração cidadã de dados?

[12]  Referências bibliográficas: 
GRACIE, Renata; XAVIER, Diego Ricardo; MEDRONHO, Roberto. Inundações e leptospirose nos municípios brasileiros no período de 2003 a 2013: utilização de técnicas de mineração de dados. Cadernos de Saúde Pública, v. 37, p. e00100119, 2021.
Gurgel HC, Carvalho MS, Artaxo P, et al. Mudanças climáticas e ambientais e as doenças infecciosas: cenários e incertezas para o Brasil.
Epidemiol Serv Saúde 2009; 18:285-304.
9. Lowe R, Bailey TC, Stephenson DB, Graham
RJ, Coelho CAS, Carvalho MS, et al. Spatiotemporal modelling of climate-sensitive disease risk: towards an early warning system for dengue in Brazil. Comput Geosci 2011; 37:371-81.

O Bem Blogado precisa de você para melhor informar você

Há sete anos, diariamente, levamos até você as mais importantes notícias e análises sobre os principais acontecimentos.

Recentemente, reestruturamos nosso layout a fim de facilitar a leitura e o entendimento dos textos apresentados.
Para dar continuidade e manter o site no ar, com qualidade e independência, dependemos do suporte financeiro de você, leitor, uma vez que os anúncios automáticos não cobrem nossos custos.
Para colaborar faça um PIX no valor que julgar justo.

Chave do Pix: bemblogado@gmail.com

Categorias