Quem mandou matar Marielle Franco?

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Prisão e delação trazem mix de sentimentos para quem acompanha as investigações do crime

Por Edu Carvalho, compartilhado de Projeto Colabora




Foi romper-se as primeiras horas da manhã na última segunda (24/7) para que um luto, ainda em suspenso, ganhasse novos contornos. Na notícia que punha o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, suspeito de envolvimento na morte da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, de volta ao xadrez novamente, um mix de sentimentos para quem acompanha o caso. Uma espécie de ferida aberta e que pouco cicatrizou com a passagem dos últimos cinco anos.

Da esquina do Estácio, o mesmo cantando poeticamente por Luiz Melodia, onde paredes relembram passantes sobre o que aconteceu ali, um país que segue colapsado. Da morte de Marielle e Anderson para os dias atuais, o modus operandi miliciano no Planalto; o desamparo de uma crise sanitária que descortinou nossas desigualdades; operações policiais com caráter eleitoral e retroalimentação da violência; o debate sobre um processo custoso de retorno à democracia, na base de soluços. Muita coisa aconteceu e também parece que nada desde a noite de 14 de março de 2018.

Ato em frente à Câmara Municipal do Rio lembra os cinco anos do assassinato da vereadora e do motorista: "Quem mandou matar Marielle" (Foto: Psol)
Ato em frente à Câmara Municipal do Rio lembra os cinco anos do assassinato da vereadora e do motorista: “Quem mandou matar Marielle” (Foto: Psol)

Ao ver no noticiário a avaliação de quem entende do jogo jurídico-político, algo mexia por dentro – e desde então não cessa. Enjoo, negação, frustração, desânimo e um quê de esperança. E dor, muita dor. Quanto mais se via ou ouvia, mais lembrava a sensação que remetia a chegada da primeira mensagem naquela noite sobre um possível atentado sofrido pela então vereadora. E na sequência, um alerta geral de perigo na cidade; afinal, não se sabia ao certo quem estava vulnerável e o quê poderia acontecer nas horas seguintes. A única certeza era o pânico.

Num 2023 marcado por efemérides que tomam de assalto a população – como o aniversário das jornadas de junho, do assassinato do pedreiro Amarildo – e até mesmo acontecimentos temporais, como a quebra da democracia em 8/1, chegar aos mandantes da morte de Marielle é o marco histórico mais importante do país no século – ainda que haja ceticismo por parte dos que caminharam até aqui e cobram por respostas.

Ter isso em mente nos ajuda a progredir enquanto sociedade, possibilitando a continuidade dos que aqui permaneceram. Sem a elucidação, todos nós brasileiros corremos perigo. Sobretudo e com mais força, mulheres negras, ativistas e políticas.

“A gente tem o sentimento de que a gente não pode parar de lutar e, enquanto família, espero que a gente dê alguns passos em principalmente entender por que a minha irmã? E quando a gente não sabe essa resposta, quer dizer que qualquer mulher negra hoje que esteja no poder, ou que coloque o seu corpo nesse lugar de luta, também podem vir a ser uma vítima dessa violência política”, disse, com a voz embargada, a atual ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Que é mulher, mãe, filha e também era irmã de Marielle, numa entrevista concedida ao Estúdio I, da GloboNews.

Na quarta-feira (26/07), o ministro da Justiça, Flávio Dino, personagem que por seu trabalho avatarizou a relevância da descoberta e a disponibilização da delação de Elcio Queiroz, disse ver com otimismo o futuro das investigações. “Temos uma atitude de otimismo moderado. Moderado porque transcorreram, infelizmente, vários anos. Se a coleta de provas tivesse sido no momento correto, 2018, 2019, os resultados seriam muito mais rápidos e eficazes. Então, o tempo decorrido atrapalha. Mas otimismo porque há, de fato, uma dedicação grande dos nossos policiais, das instituições e os resultados estão aparecendo”, disse o representante da pasta à TV Brasil.

Mais que promessas, é preciso distinguir: Suel já havia sido preso em regime domiciliar por atrapalhar as investigações. Agora, passa para o fechado. O que podemos esperar é que as delações possam surgir trazendo materiais e informações novas para que possamos responder uma das interrogações que maltrata o Brasil: quem mandou matar Marielle Franco?

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