Sarau Delivery: a música de resistência dos Pankararu na voz de Gean Ramos. Não ao Marco Temporal!

28/08/2021

Compartilhe:

Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado

“Olha quem chegou, Pankararu (…) Somos filhos da terra, somos Pankararu / Somos índios de guerra, sopra o rabo do tatu (Trecho de Cartão Postal Pankararu, de Gean Ramos)

“Na expedição etnográfica promovida por Mário de Andrade, em 1938, pioneira no registro de saberes e fazeres tradicionais no país, um dos itens que mais fascinou o pesquisador foi o praiá, traje que presentifica espíritos ancestrais do povo Pankararu” (Fonte Unifesp – Universidade Federal de São Paulo)

Sarau Delivery vai até o sertão de Pernambuco para mostrar a vida, a música, a resistência dos povos indígenas Pankararu.

Os Pankararu vivem nas cidades pernambucanas de Tacaratu, Petrolândia e Jatobá região, às margens do Rio São São Francisco, há cerca de 400 quilômetros de Recife. São cerca de sete mil índios em 14 aldeias.

Nasci no ano de 1958 em Tacaratu(PE), palavra de origem indígena Pankararu, significando “serra de muitas pontas ou cabeços”. Sempre ouvi da minha mãe Inez, de Tacaratu, e de meu pai Luiz, que é da vizinha Inajá (olha outro nome indígena aí), de que nas nossas veias correm também sangue dos povos originários.

Quanto eu tinha pouco mais de um ano, minha família voltou para São Paulo. Sim, digo voltou, pois meu pai e minha mãe, mesmo parentes pernambucanos, só se conheceram em São Paulo.

Casaram-se, tiveram o primeiro filho e depois passaram uma temporada na região de origem, no sertão pernambucano, quando nasci. Logo depois, vieram, novamente, para a Terra da Garoa e aqui tiveram mais três filhos, sendo três homens e duas mulheres.

Bom, mas não vim aqui para contar minha história e sim para falar dos índios Pankararu, da região onde nasci. Recentemente, tomei conhecimento de Gean Ramos, descendente Pankararu que vive para cantar o seu povo, a sua luta, a sua dignidade.

Nestes dias assombrosos em que vivemos, dias de pandemia e de contágio de ataque aos nossos direitos, os chamados povos originários estão sofrendo ameaças e atrocidades. Uma delas é o tal “Marco Temporal”, tentativa de drible na Constituição encontrado pelos latifundiários para roubarem as terras indígenas. Resistência é o nome.

Neste momento mais de seis mil indígenas estão em Brasília, na porta do STF, na luta contra mais uma tentativa de surrupiarem suas terras.

Sendo assim, mais do que nunca, que a voz de Gean Ramos e de milhares ecoem pelo Brasil, vindo de todos os pontos onde há ameaça de destruição dos povos originários.

Vejam aqui um curto documentário de 13 minutos produzidos por Gean Ramos com imagens de Mário de Andrade, sim o grande intelectual esteve nas terras Pankararu em 1938, 20 anos antes do meu nascimento, quando fez uma grande expedição etnográfica pelo Norte e Nordeste do Brasil.

Ouça a música e ouça o que tem a dizer Gean Ramos e outros indígenas sobre a origem e a resistência de seu povo. Não ao Marco Temporal!

Documentário Vivência Sonora Pankararu LAB.

Ficha Técnica do documentário “Vivência Sonora Pankararu”

https://bemblogado.com.br/site/documentario-vivencia-sonora-pankararu-ficha-tecnica/

Gean Ramos em “Via Crucis”, de sua autoria, com a cantora, também Pankararu, Ana Luiza

Oh pai vê lá esses filhos teus que vivem a sofrer / Tanto dinheiro no mundo tanta ambição / Tanto gasto numa guerra e má administração / Tanto favorecimento porcentagem no salário de ladrão / Todo mundo dança junto nesse mundo de corrupção

Meus Cocares (Gean Ramos/ Climério Lima) por Gean Ramos

“Conceitos Ambientais”, canta Gean Ramos

Queremos dizer NÃO: Aos Agrotóxicos; a erosão, a desertificação / A poluição vamos dizer: NÃO Vamos trabalhar: As Unidades de Conservação; Os Recursos Hídricos, a Ecologia Energética, a Lei 9.985 / Vamos dizer sim: A qualidade de vida, o trabalho a saúde ambiental / A apropriação dos recursos naturais / Vamos dizer sim: A conservação das belezas do nosso sertão / A conquista da cidadania, com a união de todo de dos povos

Gean Ramos e Mestre Braima Galissá (Guiné Bissau

Revolta da Chibata (Gean Ramos/Pablo Patriota)

Foto: Joédson Alves (Agência EFE)

Do Projeto Colabora:

Indígenas usam carta e vigília para enfrentar marco temporal no STF

“Para relator, Edson Fachin, marco temporal significaria fechar a porta aos indígenas “para o exercício completo e digno de todos os direitos inerentes à cidadania”

“Mais de seis mil indígenas do acampamento Luta pela Vida (continuidade do acampamento Luta Pela Terra, montado em Brasília durante o mês de junho) ocuparam as pistas da esplanada e foram até a Praça dos Três Poderes para protocolar a carta ao Supremo.

Os manifestantes pretendem ficar em vigília pelo menos até fim do julgamento no STF da ação de reintegração de posse movida pelo governo de Santa Catarina contra o povo Xokleng, referente à Terra Indígena Ibirama-Laklãnõ, onde também vivem os povos Guarani e Kaingang (…).

A questão central é a discussão em torno do chamado marco temporal, tese jurídica defendida por ruralistas e outros setores interessados na exploração das Terras Indígenas. Segundo esta interpretação, os povos indígenas só teriam direito à demarcação das terras que estivessem em sua posse no dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição. Se não estivessem na terra, os indígenas precisariam estar em disputa judicial ou em conflito material comprovado pela área na mesma data (…).

“Após passeata pela Esplanada dos Ministérios, indígenas acampados em Brasília entregaram, no dia 24 de agosto, carta com mais de 160 mil assinaturas virtuais ao Supremo Tribunal Federal (STF), manifestando seu protesto contra a tese do chamado marco temporal e pedindo que a Corte proteja os direitos constitucionais dos povos indígenas.

“O tratamento que a Justiça brasileira tem dispensado às comunidades indígenas, aplicando a chamada ‘tese do marco temporal’ para anular demarcações de terras, é sem dúvida um dos exemplos mais cristalinos de injustiça que se pode oferecer a alunos de um curso de teoria da justiça”, afirma o documento.”

O Bem Blogado precisa de você para melhor informar você

Há sete anos, diariamente, levamos até você as mais importantes notícias e análises sobre os principais acontecimentos.

Recentemente, reestruturamos nosso layout a fim de facilitar a leitura e o entendimento dos textos apresentados.
Para dar continuidade e manter o site no ar, com qualidade e independência, dependemos do suporte financeiro de você, leitor, uma vez que os anúncios automáticos não cobrem nossos custos.
Para colaborar faça um PIX no valor que julgar justo.

Chave do Pix: bemblogado@gmail.com