Cervejas artesanais: concorrência predatória?

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Por Wilson Renato Pereira – 

Há alguns anos, em conversa com um amigo, um dos pioneiros na fabricação de cervejas artesanais em Minas, indaguei se o setor não ficaria temeroso de um ataque frontal das megas cervejarias, em razão do atraente crescimento desse mercado (30%  anuais contra 5% das cervejas tradicionais).




Alexandre Bazzo
Alexandre Bazzo

Citando um parente seu, na época integrante do Conselho de Administração de uma delas, esse amigo afirmou, à época, que não havia nenhum interesse, pois o volume das artesanais produzidas no Brasil ainda era muito pequeno para despertar cobiça das grandes corporações. Outro cervejeiro, perguntado se venderia seu negócio, respondeu com outra pergunta: – Por que não?

O fato é que, hoje, menos de cinco anos depois, o que vemos é um apetite cada vez mais voraz das indústrias mainstream em cima das pequenas cervejarias. Segundo o pessoal do setor, elas buscam com isso, principalmente, associar à sua imagem o conceito de qualidade das artesanais.

Fabiana Arreguy
Fabiana Arreguy

O movimento é internacional e se acentuou a partir de 2011, nos Estados Unidos, com a aquisição pela Anheuser-Busch/Inbev, a maior cervejaria do mundo, da Goose Island (Chicago), Blue Point (Nova York), 10 Barrel (Oregon), Elysian (Seattle) e Golden Road (Los Angeles). Mais recentemente, a Miller-Coors Brewing anunciou acordo com a San Archer e a Heineken comprou 50% da Lagunitas, sexta maior cervejaria independente americana.

No nosso país, a Brasil Kirin adquiriu a carioca Devassa, a paulista Baden Baden e a catarinense Einsebahn. A Ambev, pertencente à AB/Inbev, associou a sua subsidiária Bohemia à mineira Wäls e comprou a Colorado, de Ribeirão Preto, ambas campeoníssimas em concursos cervejeiros internacionais.

A motivação inicial das pequenas cervejarias para ceder ao assédio era a necessidade de continuar crescendo sem recorrer aos bancos, além do acesso às enormes fazendas de cevada e lúpulo, bancos de leveduras e uso da eficiente logística de distribuição que as gigantes multinacionais possuem.

Na edição passada desta coluna, abordamos o assunto do ponto de vista das grandes cervejarias (“Grandes cervejarias agora pensam pequeno”). Agora, procuramos a opinião de pessoas relacionadas profissionalmente ou integrantes do mercado artesanal de cervejas.

Segundo a jornalista, beersommelière e jurada internacional de concursos cervejeiros, Fabiana Arreguy, o assunto é controverso. “Eu adoraria acreditar que as fusões e compras feitas vieram para somar. Mas, infelizmente, vejo que os grandes grupos tendem a formar um portfólio de artesanais, com boa identificação com o público, para dominar pontos de venda, como já vêm fazendo. Para as artesanais compradas, sem dúvida, um ótimo negócio. Para as demais, uma concorrência predatória péssima para a expansão do mercado.”

Para Maurício Beltramelli, mestre em estilos de cerveja e proprietário do Brejas, maior portal cervejeiro brasileiro, o que vem acontecendo hoje com as cervejas artesanais (grupos econômicos adquirindo cervejarias menores) é apenas um reflexo do que comumente acontece em todos os setores do mundo todo. É um movimen
to normal em qualquer mercado. A consistência das receitas, bem como a distribuição, melhoraram e os preços caíram.

Mauricio Beltramelli
Mauricio Beltramelli

“Tudo isso possibilitou que mais e mais gente conhecesse esse universo, o que é bom. Claro que há partes ruins também. Vejo notícias dando conta de que a Ambev vem ‘comprando’ pontos de venda, pra monopolizar seus produtos nas gôndolas. Isso é ruim e deve ser combatido. Em última análise, o mercado artesanal vai acabar se estabilizando e dando conta de se sustentar, apesar dos altos impostos”, afirmou Beltramelli.

Os cervejeiros artesanais são mais radicais em suas posições e acham as aquisições inquietantes. Para Alexandre Bazzo, proprietário da paulista Cervejaria Bamberg, também premiadíssima, a entrada de uma mega cervejaria no mercado de artesanais acontece por um único motivo: barrar o crescimento das microcervejarias. “Não existe nenhum ponto positivo deles estarem comprando as pequenas, pois fazer cerveja artesanal é um conceito. O dinheiro deles pode comprar quase tudo, menos este conceito de negócio.”, afirmou.

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