Os mistérios das prisões seletivas e a discussão do que interessa

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Por Enio Squeff – 

Passou em brancas nuvens, a proposta do deputado Wadih Damous, do PT do Rio de Janeiro, de que o almirante Othon da Silva fosse anistiado da dura pena de mais de 40 anos de cadeia, por ter – em teoria – desviado quatro milhões de reais da construção do submarino nuclear brasileiro ao longo dos 12 anos em que dirigiu o projeto.




Ao que parece, as alegações de sua defesa de que o militar precisava de dinheiro para comprar, no câmbio negro, equipamentos que as grandes nações sonegam, para manterem sua hegemonia nuclear, não comoveu nem o juiz Sérgio Moro, muito menos os companheiros de farda do militar preso.

Quarenta e três anos para o almirante é uma pena que faz pensar. O doleiro Alberto Youssef  está solto. Seus comparsas da Petrobrás, notórios corruptos dedos-duros também gozam a vida do que lhes sobrou – e muito – de seus roubos. Há quem aposte que a pena é exemplar e importada diretamente dos EUA: ou seja, os militares brasileiros que se guardem de não tentarem qualquer incursão ao clube nuclear.

Haverá sempre um membro do Judiciário brasileiro, disposto a castigá-los duramente por quaisquer veleidades independentista. Soberania nacional dos países abaixo do Rio Grande não seria bem do agrado da CIA.

É uma das teorias. Haveria outras, é claro. Mas ainda que se julgue pertinente a acusação que pesa sobre o almirante, seria de se aceitar a literal prisão perpétua de um homem de mais de 76 anos? Eduardo Cunha, que se diz ter roubado algo em torno de 800-milhões (ouvi isso de um jornalista, em Brasília), foi literalmente agraciado pelo mesmo juiz com 15 anos de prisão. Mas não se duvide que o STF o exclua do presídio em que se encontra em Curitiba. O homem sabe demais e nunca se sabe o que se possa vir a saber, inclusive sobre o egrégio STF – se não for solto adrede.

Talvez seja de se pensar nas diferenças: o ex-deputado Eduardo Cunha teria prestado um serviço inestimável às elites brasileiras ao conduzir o impeachment de Dilma Rousseff; já o almirante – de resto ao que se diz, uma das mentes mais brilhantes das Forças Armadas – teria conduzido um projeto contra a subalternidade. Um crime de lesa-pátria – contra os Estados Unidos, entenda-se.
Nacionalismos?

Talvez.Pelo que diz o deputado Wadih Damous, ex-presidente da OAB do Rio, o juiz Sérgio Moro tem extremo cuidado com os políticos que compõem a base aliada do governo Temer; e nenhum interesse em saber se José Serra roubou realmente os 23 milhões de reais que a Suiça diz que ele possui num de seus bancos. E, por enquanto, ainda ao que se conclui, o mesmo juiz e sua turma de Curitiba, nem cogitam de se inteirar se os próceres do PSDB também tungaram algum do erário público, a começar pelo ínclito Aécio Neves.

O que intriga, contudo, é o pedido de Damous. Há a idade e o prestígio do brigadeiro, está certo. Mas não seria um exagero pensar que o deputado talvez queira provocar algumas definições. Uma delas seria a da Justiça – será de fato brasileira a que condenou o brigadeiro?  Outra sãos as das próprias Forças Armadas. O silêncio mais que obsequioso dos militares seria o de não terem nada a dizer.

E a essas alturas do século, estranha que uma corporação que já deu homens do calibre de Euclides da Cunha, Nelson Werneck Sodré ou mesmo Moniz Bandeira, entre muitos mais, não se julgue na obrigação de sequer balbuciar alguma coisa como o desmonte da soberania nacional. O assunto não lhes diz respeito, é isso?
Discussão antiga essa. Quem sabe seja isso que Wadih Damous queira exumar.

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