A diferença entre reconhecer e reparar os crimes históricos e atuais

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É muito bom quando um chefe de estado reconhece as práticas exploratórias, colonialistas, cerceadoras de liberdade e genocidas de seu passado histórico. 

Por Adriana do Amaral. compartilhado de seu Blog




Quando lemos a declaração do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, curiosamente um política vinculado à direita, afirmar que o país cometeu “abusos durante a Guerra Colonial”, confesso sentir “um quentinho no coração”, expressão que aprendi com os mais jovens. 

Quando se debate a reparação, aí, a história e a prática econômica precisa ser avaliada com mais atenção.

Vivemos, no Sul Global, as consequências de um passado que se perpetua no presente; a escravidão, o genocídio e a expropriação ainda são práticas dos mais ricos contra os mais pobres, os empresários contra o trabalhador; a elite contra a burguesia, os detentores do poder contra os sem-direitos.

O nosso povo sofre  com a violência social, econômica, racial e até mesmo física praticadas, local e universalmente.

O Brasil e os países da diáspora africana fomos saqueados e escravizados pelos colonizadores/exploradores/governo português. 

A América Latina foi dilapidada pelos espanhóis, ingleses, franceses. 

Onde houver um crime histórico identificaremos um criminoso europeu, mas não só eles.

As sociedades locais, na época, colaboraram para esses crimes, enriqueceram com eles e os seus descendentes continuam bebendo da fonte da escravidão do povo africano, do genocídio dos povos indígenas e os países colonizados sofrem ainda hoje as consequências dessa prática. 

A pobreza, gerada pela acumulação de poucos contra a população, gerou estereótipos que fomentam a exclusão social, o racismo, a aporobobia e outras práticas excludentes.

Sim, a reparação é urgente, mas quem vai pagar a conta? 

Quem serão os indenizados?

Este custo não pode ser pago com recursos públicos, que seriam desviados e deixariam de beneficiariam o povo que, em todo o mundo, vive as consequência de outro ciclo exploratório: o neoliberalismo.

Os europeus têm uma dívida de sangue e de moral, que tem de ser paga, mas como? 

Talvez, comprometendo-se com a mudança social. 

Por exemplo:

fomentando o comércio exterior, a educação, a troca de tecnologia entre as nações exploradoras e explorados; garantindo que os países colonizados possam se desenvolver culturalmente e socialmente; que seus produtos e riquezas naturais sejam valorizados e comercializados por preços decentes; que as fronteiras se abram para que os diferentes povos sejam recebidos como pessoas humanas, com equidade e respeito;

é preciso que os países antes explorados recebam os recursos financeiros, com a pré-condição que os valores sejam revertidos exclusivamente para os povos afetados historicamente. No caso do Brasil, no combate à pobreza, valorização dos quilombolas, remarcação das terras indígenas, fomento à pesquisa para identificação das origens dos povos que tiveram as suas identidades ceifadas;  investimentos em estudos direcionados para identificar a história oculta durante mais de 500 anos de história;

precisamos cobrar das famílias que ocuparam o Brasil os impostos das heranças perpetuadas nesta lógica exploratória. 

Afinal, muitos lucraram de forma extorsiva mesmo nos países antes explorados e agora exploradores.

No Brasil não foi diferente: há muito rico que bebeu da fonte da escravidão.

É preciso esclarecer, nomear quem são as famílias e empresas que beberam nessa fonte inesgotável, e que continuam enriquecendo com os frutos do passado imoral.

O Estado brasileiro surgiu na pós-colonização, e seguiu uma lógica exploratória.

Nós, o povo brasileiro, precisamos entender o nosso passado, reconhecer a nossa responsabilidade, mas a conta tem de ser paga pelos exploradores, sejam os europeus, as famílias radicadas e no Brasil e seus descendentes, e toda nação que corroborou às práticas da exploração.

A decolonização é consequência da descolonização, porque uma está necessariamente vinculada a outra e não se excluem. 

Decolonizar implica em se reconhecer, descolonizar é uma tarefa complexa que implicaria identificar as diferentes práticas coloniais impostas e que, em certa medida, nos tornaram o que somos. 

A sociedade brasileira foi forjada nesta lógica histórica, passou da hora de nos emanciparmos e declarar a independência real.

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