Banco Cental ou ilha da fantasia?

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Por René Ruschel, jornalista, para o Bem Blogado

Temas como taxa Selic, juros reais, Banco Central independente, estão na ordem do dia da pauta verde-amarelo. Assuntos complexos, espinhosos, demasiadamente técnicos que interferem no cotidiano de todos os brasileiros. Enquanto isso, a tigrada que se espreme em ônibus, metrôs ou trens, os miseráveis que reviram lixo em busca de comida ou à cata de material reciclável, os milhões de desempregados que perambulam pelas ruas em busca de qualquer biscate são os que mais sofrem com as consequências. Em contrapartida, são os que menos sabem deste veneno que intoxica a Nação.




O presidente Lula comprou a briga e partiu para o ataque. Enfrentar Roberto Campos Neto, presidente do BC e as feras da Faria Lima não é pouca coisa. Representantes dos donos do dinheiro, fundamentalistas da ética e do combate à corrupção, defendem o mercado – mesmo que seja lá o que isso signifique. São as rapinas que utilizam a “mão invisível” de Adam Smith para encher as burras de grana, criticar a intervenção do estado na economia a fim de ditar as regras que mais as convêm.

Exatamente isso: ditar regras e normas que os favoreça. O papel do Banco Central é fiscalizar e regular o sistema financeiro. Mas quem dirige o Bacen são asseclas de banqueiros, executivos com salários milionários que garantem a farra dos rentistas e de seus patrões. Raposas que cuidam do galinheiro.

Neste jogo, só os banqueiros não perdem.  Suas decisões, como a definição da taxa de juros, para o bem ou mal afetam a vida de todos nós. Enquanto o povão se endivida no cartão de crédito, nos preços finais nas gôndolas dos supermercados, nos empréstimos para se safar de dívidas emergenciais, na alta dos preços do material escolar dos filhos e por aí afora, a elite financeira se refestela em uma farra de ganhos sem precedentes. Basta olhar o lucro liquido dos bancos a cada trimestre.

Armínio Fraga, economista brasileiro com cidadania norte-americana e ex-presidente do Banco Central no segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, disparou que “o ataque de Lula ao BC é um equívoco”. Equívoco? Ora cara pálida. Equívoco é a política financeira adotada pelo BC “independente” que privilegia os poderosos e trucida milhões de miseráveis à fome, à miséria e a desesperança.

Nas ruas de qualquer cidade milhares de invisíveis dormem ao relento, sob marquises e viadutos. Só não vê quem quer. Basta olhar na primeira esquina para enxergar a realidade de Pindorama. O extermínio dos povos Yanomami é o retrato 3×4 deste país.

A miséria no Brasil só será minimamente equacionada quando a distribuição de renda for menos injusta. Somos o segundo país do planeta com a pior distribuição de renda. Aqui, seis pessoas concentram a mesma riqueza dos 100 milhões de brasileiros mais pobres. Isso não é equívoco, é ultraje.

Essa turma permaneceu calada nos últimos quatro anos. Não reclamou da farra fiscal do ex-capitão, dos bilhões torrados na campanha política, da corrupção desenfreada nos ministérios da Saúde e da Educação, que distribuía dinheiro às igrejas com direito a impressão de Bíblias ilustradas com a estampa do pastor-ministro. Não exigiu das autoridades a compra de vacinas contra a Covid-19 nem oxigênio para salvar vidas em Manaus.  

A covardia do capitão foi tamanha que não teve coragem de entregar ao sucessor a faixa presidencial. Escondido nos Estados Unidos teme ser preso. Como erva daninha, semeou o ódio e deu voz a uma ultradireita radical que deixou sua marca no último 8 de janeiro, em Brasília. .

Agora, no carnaval, Fraga e Bob Neto poderiam desfilar nos blocos da periferia carioca fantasiados de povo. Talvez enxergassem à terra arrasada, a miséria, a vida real que desconhecem. Quem sabe sejam contagiados pela alegria desta brava gente que insiste em não desistir. A prova desta resiliência é que elegeram um ex-metalurgico audacioso que ousou dizer “não preciso pedir licença para governar”. Sobrou a esperança. O resto é hipocrisia e barbárie.

Foto: Washington Luiz de Araújo

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