Economia da floresta em pé pode elevar o PIB da Amazônia em 67%

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Estudo feito por 76 pesquisadores prevê ainda a geração e 833 mil novos empregos no setor de bioeconomia a partir de 2050

Por Agostinho Vieira, compartilhado de Projeto Colabora




Um homem colhe açaí na reserva de Ituxi, perto da aldeia de Volta do Bucho na região da Amazônia Ocidental. Economia da Floresta em Pé pode elevar o PIB da região em quase 70%. Foto Carl de Souza/AFP

Durante quase três anos, 76 pesquisadores de diferentes universidades e instituições científicas de todo o país se reuniram regularmente para desenhar o que poderia ser uma Nova Economia da Amazônia, tendo como premissas a manutenção da floresta de pé, a valorização da biodiversidade, a inovação, o respeito ao conhecimento dos povos originários e a descarbonização da economia brasileira. O resultado não chega a ser surpreendente, mas é bem curioso. Em resumo, eles concluem que dinheiro pode sim dar em árvore, e não é pouco. A estimativa chega a uma elevação do PIB da Amazônia em 67%, chegando a R$ 38,5 bilhões anuais a partir de 2050, com crescimento em todos os setores econômicos da região, incluindo a agropecuária e a mineração.

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As principais conclusões do estudo, que foi desenvolvido pelo WRI Brasil, foram apresentadas na terça-feira, 20 de junho, em um evento em Belém, no Pará, com a participação de representantes das universidades envolvidas, organizações não governamentais e autoridades. Para o professor Carlos Nobre, pesquisador da USP, membro da Royal Society, de Londres, e uma das lideranças do projeto, os modelos desenhados ao longo do trabalho “abrem uma real possibilidade para a criação de uma nova bioeconomia da Amazônia, absolutamente sustentável e com uma grande melhoria nas condições sociais da população da região”.

Os estudos feitos promoveram, de forma inédita, a compatibilização e a interação de modelos econômicos desenvolvidos por grupos de pesquisa de diferentes partes do país para compor uma análise compreensiva sobre a economia atual da Amazônia Legal e traçar diferentes cenários para 2050. Para os autores, a Nova Economia da Amazônia é um futuro possível e comprovado por uma análise científica sólida e inovadora.

Além dos ganhos sociais e econômicos, o trabalho prevê benefícios ambientais muito relevantes, como a garantia de um desmatamento zero até 2030 e a restauração de 24 milhões de hectares de florestas. Maior produtividade da terra, menor suscetibilidade ao estresse hídrico e menos perda de fertilidade do solo.

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Hoje, o modelo de desenvolvimento econômico da Amazônia Legal é completamente insustentável. A atual lógica se caracteriza pela venda de commodities agrícolas e minerais, que geram mais desmatamento e emissões de gases de efeito estufa. Além de todos os impactos, essas atividades não promovem um crescimento econômico relevante e acabam acentuando a desigualdade social existente. A informalidade do trabalho na região é alta, a qualificação profissional é baixa e os salários ficam aquém das médias nacionais. Ou seja, muita exploração e pouco ganho concreto.

O custo dessa transição para a Nova Economia da Amazônia seria de R$ 2,56 trilhões até 2050, ou 1,8% do PIB do país ao ano. Apenas 0,8% superior ao nível de investimento atual. Esse montante seria investido da seguinte maneira: R$ 659 bilhões no uso estratégico do solo, R$ 410 bilhões na mudança da matriz energética da região e R$ 1,49 trilhão em infraestrutura. Com isso, a Amazônia seria a grande catalisadora da descarbonização da economia brasileira. Conheça as principais mudanças previstas pelos pesquisadores:

Bioeconomia:

A principal mudança nessa área seria garantia de manutenção da floresta em pé e dos rios fluindo, respeitando a capacidade do bioma. O estudo mostra que, hoje, a bioeconomia já representa um PIB de R$ 12 bilhões na região. Com os investimentos adicionais, ele chegaria a R$ 38,5 bilhões em 2050, gerando 833 mil novos empregos, que substituiriam ocupação ligadas à destruição da floresta.

Agropecuária:

Esse setor deve ser livre de desmatamento e degradação florestal para garantir a sua relevância até 2050. Essa transição demandaria investimentos adicionais de R$ 442 bilhões, focados em massificação das práticas de baixa emissão de carbono e intensificação produtiva exclusivamente em áreas já degradadas, com um combate efetivo à desigualdade rural. Os serviços ambientais da floresta saudável gerariam maior produtividade da terra, menor estresse hídrico e menor perda de fertilidade do solo.

Mineração:

Os bens minerais são indispensáveis na transição energética global e na construção da infraestrutura para uma economia de baixo carbono. Entretanto, custos e benefícios da mineração devem ser internalizados e mais bem distribuídos.  A transição no setor precisa ir além das práticas de governança ambiental, social e corporativa (ESG) e ter como prioridade o bem-estar e a segurança das populações e dos recursos naturais essenciais para seus modos de vida. Isso se traduz em investimentos diretos para promoção de qualidade ambiental, bioeconomia e sistemas produtivos regenerativos compatíveis com os anseios locais.

Infraestrutura:

Com a transição para uma economia de baixo carbono, a demanda energética da região será menor, e a matriz energética passará por mudanças significativas a partir de fontes limpas. As principais soluções seriam a implementação de sistemas fotovoltaicos flutuantes sobre represas hidrelétricas já existentes e, também, sobre pastagens degradadas. Tais iniciativas serão capazes de gerar 55% da energia demandada pela região até 2050. Além disso, a queima de resíduos agrícolas, urbanos e da bioeconomia, como os coquilhos de açaí, seria capaz de gerar energia suficiente para substituir o equivalente a 359 milhões de litros de diesel, o que diminuiria as emissões de CO2 em cerca de 1,5 milhão de toneladas. O transporte hidroviário com motores híbridos (elétrico + combustão), favorecido pela extensa rede fluvial, absorveria 20% do atual transporte rodoviário de cargas.

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