O Escudo

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Por Claudio Lovato Filho, jornalista e escritor – 

“O futebol pode prescindir de tudo: vai continuar vivendo sem treinadores, sem dirigentes, sem jogadores, sem espectadores. Mas não pode continuar vivendo sem escudo. Porque o escudo é o que emociona. Tudo o que o futebol gera, gera porque há um afã de captar a emoção daquele que chora porque o time ganha ou perde”.




Essa declaração do técnico argentino Marcelo “El Loco” Bielsa sempre me pareceu fascinante. Não por acaso, ela explicita o pensamento de um argentino. Na Argentina, sobretudo em Buenos Aires, o clube é o bairro, o bairro onde se nasceu, portanto é a infância, e é por isto que se torce: pelo clube, pelo bairro, pela infância, pela própria vida. Tudo isso representado por um escudo.

Costumo dizer aos meus amigos, sobretudo aos mais jovens: “Temos que ser torcedores de clube antes de sermos torcedores de time”.

São pensamentos que têm me ocorrido de maneira recorrente nestes tempos em que o futebol brasileiro não vive uma fase de – digamos assim – exuberância técnica.

Ouço pessoas dizerem que não vão mais ao estádio por causa do baixo nível das partidas.

Ouço pessoas dizerem que não conseguem ir ao estádio para ver uns pernas-de-pau que ganham fortunas mensais.

Ouço pessoas dizerem que não esquentam mais a cabeça com futebol, que o futebol virou só dinheiro e que, por isso, perdeu a importância que já teve em suas vidas.

Não consigo deixar de pensar que essas pessoas estão se distanciando de si mesmas, e o amor de outros tempos virando motivo, no máximo, de um sorriso nostálgico aqui e de uma interjeição constrangida ali, se tanto.

Mesmo porque, como disse uma vez Diego Armando Maradona (de novo um argentino!), há jogos bons e há jogos nem tão bons, mas nunca será ruim, porque é sempre futebol.

Será sempre futebol. E um escudo.

“Tudo o que se leva da infância é o futebol”, disse um dia Luiz Fernando Verissimo (enfim um brasileiro!). Ele certamente não teria dificuldade em responder a pergunta do grande poeta chileno Pablo Neruda: “Onde está o menino que fui, segue dentro de mim ou se foi?”

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