O falso plural dos jornais

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Reproduzido pelo Observatório da Imprensa da página do autor no Facebook – 

Por Luiz Weis




A edição de terça-feira (24/3) da Folha de S.Paulo reconhece que errou a dar em manchete que “delatores” disseram a investigadores da Lava Jato que José Dirceu recebia parte da propina paga ao PT.

Foi um só, o empreiteiro Ricardo Pessoa, presidente da UTC, se corrige o jornal (ver aqui).

Mas o noticiário político – e não só na Folha – vive coalhado de plurais que o leitor não tem como saber se de fato o são.

Dia sim, o outro também, os jornais dão que anônimas “fontes do Planalto” confidenciam (ou informam, revelam, admitem, relatam ou o que se queira) que a presidente ficou irritada (ou contrariada, surpresa, preocupada, alegre ou o que se queira) com algo.

Pode-se apostar que muitas vezes a fonte é uma só – ainda que não seja necessariamente a mesma.

O plural indevido, nessa imprensa sem goleiros para não deixar passar mentiras ou meias verdades, tem duas serventias. Uma para dentro, outro para fora. Para dentro, como forma de mostrar serviço aos chefes. Para fora, a fim de dar mais sustança à notícia.

O que, além de fraudulento, é uma bobagem. Dependendo do informante e da posição que ocupe no governo, a sua palavra singular pode valer mais do que a de dois outros, sem o mesmo acesso aos segredos do poder.

Sem falar na hipótese de que eles abram o jogo sobre o que não conhecem, afinal de contas, como fazem crer. Só para se mostrar mais do que são aos jornalistas que os procuram.

Salsichas e notícias

Para combater a praga da notícia sem pai nem mãe, o New York Times adota uma prática de respeito ao leitor diante do que aqui se chama, barbarizando o idioma, “informação em off”.

Primeiro, o repórter tem de perguntar à fonte por que ela não pode assumir o que lhe conta – e a resposta acaba fazendo parte da matéria. Segundo, preservado o sigilo do vazador, o texto tem de incluir o máximo de pistas possíveis sobre a sua identidade. O NYT baniu faz tempo o velho e cômodo “fonte(s) bem informada(s)”.

Mas quem liga para isso nestas bandas?

Bismarck dizia que o povo ficaria revoltado se soubesse como são feitas as leis e as salsichas. Assim também o leitor brasileiro se soubesse como são feitas as notícias que consome.

***

Luiz Weis é jornalista

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