Plataformas de futuro

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Renato Meirelles, Presidente do Instituto Data Popular, para Revista Brasileiros – 

Acabaram-se os tempos em que o único dinheiro do asfalto que entrava na favela vinha do narcotráfico. Com a ajuda da internet, uma série de serviços deve movimentar R$ 74,7 bilhões em 2015

A presença cada vez maior da tecnologia está fazendo com que a internet seja uma realidade constante e indispensável na vida da maioria dos brasileiros. Atualmente, mais de 70 milhões de adultos acessam a rede no Brasil. A democratização da internet trouxe uma série de mudanças e todo mundo passou a ter acesso a um conjunto de informações. As pessoas estão mais: mais conectadas, mais antenadas e compartilham mais informações. Têm uma rede social maior e, logo, sabem melhor o que querem e onde pretendem chegar no futuro. A internet empodera e possibilita ver o horizonte de outro ângulo, com um olhar mais otimista e promissor.




Cada vez mais inseridos no mundo vir­tual, os jovens da classe média têm uma sede maior de aprendizagem se comparados com seus pais. Eles estão mais escolarizados que a geração anterior e mais críticos em relação ao presente e ao futuro. Têm uma vontade maior de conhecer novas culturas e a carreira profissional é uma de suas prioridades. Eles são os novos formadores de opinião dessas famílias. São eles que apresentam aos pais as novas tecnologias e a interatividade virtual. São eles os responsáveis pela compra de vários aparelhos tecnológicos da família. A internet amplia o repertório, as redes de relacionamento e as possibilidades de ascensão social, empoderando os jovens brasileiros.

Recentemente, apresentamos uma pesquisa, em parceria com o Facebook e a Cufa (Central Única das Favelas), que mostra os moradores mais conectados e usando mais a internet para mudar de vida. O acesso possibilita aos moradores quebrar barreiras. Em muitos aspectos, eles estão mais críticos dos que as pessoas ainda não conectadas. Inclusive, em relação ao preconceito. Boa parte dos moradores internautas concorda que quem mora na favela sofre preconceito. É muito comum a gente encontrar na comunidade pessoas que precisam mentir sobre o endereço onde moram porque se falarem que vivem na favela não vão passar na entrevista de emprego.

O acesso à rede possibilita que os internautas da favela enxerguem mais oportunidades que os demais. Quem mora na favela quer realizar o seu maior sonho: ser o dono do próprio negócio. O emprego com carteira assinada dificilmente conseguirá transformar esse sonho em realidade. O estudo mostra que a vontade da comunidade de empreender cresceu muito, principalmente nos últimos dois anos. E, quando fomos pesquisar o motivo que impulsiona os moradores a abrirem o próprio negócio, descobrimos que dois terços querem ser empreendedores por oportunidade e apenas um terço quer abrir o negócio próprio para poder ganhar mais.

Arte/Brasileiros

Como a economia da favela talvez seja hoje em dia a única economia que cresce – os moradores vão movimentar R$ 74,7 bilhões em
2015 –, os futuros empreendedores querem aproveitar essa fatia de consumo.

Infelizmente, durante muitos anos, o único dinheiro do asfalto que entrava na favela era o do tráfico de drogas. Antes, os moradores tinham dificuldade para conquistar o cliente que estava fora da favela, mas, hoje em dia, a tecnologia faz essa “ponte”. O consumidor está subindo o morro. Bufês, salões de beleza, restaurantes, hotéis e pet shops são alguns dos serviços oferecidos na favela que são contratados por moradores que estão fora desse território. A roda da economia gira na favela numa velocidade muito mais rápida do que fora dela.

O que me impressiona é que a tecnologia é niveladora, democratiza o acesso à informação e muda a vida de milhares de pessoas. A internet é uma vitrine para o mundo.

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